Núcleo de Combatentes da Batalha

Notícias dos Combatentes

O distanciamento físico

Quando, há anos, a comunidade científica anunciou um estudo, em que demonstrava que quem mais consumia paracetamol tinha menos esperança de vida, o pânico, na população em geral, foi tanto que o consumo e venda do princípio ativo diminuiu para valores jamais vistos. Se, antes da sua publicação, os cientistas sociais têm sido ouvidos, concluiriam que quem tem mais necessidade de consumir paracetamol é porque já padece de qualquer tipo de doença, que, de per si, lhe encurtará a esperança de vida, e não o medicamento, que talvez até a prolongue.

Quando, erroneamente, hoje em dia, se apela ao distanciamento social, ao invés de se aconselhar o distanciamento físico, para prevenir a transmissão da Covid-19, não se tem em conta que o primeiro tipo de distanciamento é o que separa ricos de pobres. Ao apelar-se ao distanciamento social, uma vez que os mais abastados não quererão libertar-se de parte da sua riqueza, o mesmo continuará tal como anteriormente à pandemia – quem é rico é rico, quem é pobre é pobre – e o distanciamento social entre ambos é o que as ciências sociais, nomeadamente o campo da ação social, tenta a todo o custo encurtar ou fazer desaparecer. Não utilizemos então um termo que apenas distancia intelectualmente quem o utiliza, de quem usa o termo distanciamento físico.

A própria Organização Mundial da Saúde já substituiu o termo distanciamento social por físico. Não era também a intenção de que as pessoas se separassem socialmente das relações com os seus familiares e amigos mas, tão somente, que se mantenham a dois metros de distância para se protegerem da transmissão da doença, aos seus contactos, e vice-versa, mesmo que assintomáticos. O uso de máscara não é, por si só, um meio de segurança mas, sim, um dos complementos, e apenas funciona em conjunto com o respetivo distanciamento físico.

Ora, a distancia física pode ser mantida pelo simples facto de se ficar em casa, teletrabalhar, limitar o número de visitas, utilizar as redes sociais para reunir, preferir caminhadas ou andar de bicicleta, quando possível, em detrimento dos transportes, comprar mais bens essenciais em vez de sair para ir ao supermercado todos os dias, e assim se continuar a viver sãmente a nova normalidade.

Não é de todo pretendido que as pessoas cortem as relações sociais com os entes queridos. Temos o privilégio de coabitar na era digital, mais fácil, sim, para as novas gerações, mas ao alcance de todos, e a necessidade aguça o engenho; há que aprender.

Podemos e devemos manter a distância física conservando a proximidade social, seja a das nossas relações, seja em prol das camadas sociais mais necessitadas e por isso mais distantes.

Apelar ao distanciamento social é apelar ao fosso civil de diferença entre classes, à desigualdade, à sempre maior e crescente pobreza.

Apelemos ao distanciamento físico que, esse sim, contribuirá para a diminuição da propagação do SARS-CoV-2.

O que é das ciências sociais às ciências sociais.

Continuemos, inteligentemente, a manter-nos seguros.


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