José Ornelas Carvalho

Bispo de Leiria-Fátima

“A Quaresma do deserto não é negação da autoestima”

(…) A nossa Quaresma recorda, não apenas a história de Israel, mas também a história pessoal, familiar, e da nossa comunidade Igreja, como lugares e tempos em que experimentámos fracassos, erros e desvios, mas igualmente a presença inabalável da fidelidade amorosa de Deus, a força renovadora da água com que fomos libertados e integrados na Sua família, e sobretudo a presença renovadora do Seu Espírito que torna possível retomar, com nova confiança e coragem, o caminho a que fomos chamados. É tempo de recordar, de agradecer, de traçar caminhos de coerência e de futuro.

Impelido pelo Espírito, Jesus discerne, no deserto, o projeto do Pai Jesus tem bem presente a memória e a esperança do seu povo e associa-se aos israelitas que respondem à pregação de João Batista e se fazem batizar no rio Jordão, como sinal de mudança de vida e como expressão de disponibilidade para colaborar na transformação que essa mudança significava.

(…) Jesus não se aproveita da própria posição e poder para acumular riqueza ou manipular pessoas (…) Não se deixa levar pela tentação efémera da vaidade e da fama, para se tornar uma “estrela” ofuscante e maravilhosa (...)

Finalmente, Jesus rejeita totalmente a ideia de conquista do poder, que leva sempre a adorar os deuses do dinheiro, da violência, da guerra, da repressão.

O caminho pelo qual Jesus se decide, a Quaresma do deserto não é negação da autoestima, ou uma vida de lamentações deprimentes. Também não quer ser uma via triunfante de conquista de troféus por meritocracia. É, pelo contrário, uma “Boa Notícia” de vida, de consciência de ser amado pelo Pai do Céu; de sentir-se irmão numa fraternidade sem muros nem exclusões; de multiplicação do pão da mesa, da dignidade, da educação, da ciência e dos outros dons de Deus para todos; de fundada esperança numa vida que não promete facilidades, mas que está nas mãos carinhosas e poderosas do Pai do Céu”.

*Mensagem para a Quaresma de 2024


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