José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (226)

Pequeno guia para uma visita ao Mosteiro (IV)

No Claustro Real (ou de D. João I) vamos encontrar o que possivelmente é o primeiro ensaio do novo estilo, o Manuelino, que muita coisa leva a crer ter sido iniciado e criado pelo Mestre Mateus Fernandes, aquele Mateus Fernandes que dirige a obra a partir de 1490 a convite do Rei D. João II e que teria um antecessor, do mesmo nome e apelido, despedido em 1480 pelo Rei D. Afonso V, por o não considerar competente para levar avante a difícil tarefa.

Poderei estar errado, mas é credível a possibilidade de existência de dois Mateus Fernandes. De qualquer forma é preciso averiguar se naquele tempo existiram dois ou apenas um Mateus Fernandes.

O manuelino dá os primeiros passos nos ornatos dos arcos do Claustro Real pelo engenho de Mateus Fernandes e nos arcos da Fonte dos Frades já pela mão de Boitaca (Boytac) genro de Mateus, que, não tendo sido mestre das obras do nosso Convento, aqui prestou esporádicos mas valiosos serviços. É também da sua autoria o precioso pórtico da Igreja Matriz, pórtico que começa a precisar de cuidados em vista da degradação do calcário de que é feito. Boitaca exerceu o importante cargo de Mestre das Obras do Reino e pelos seus serviços valiosos ascendeu à elevada posição de cavaleiro da Casa Real. Boytac foi um dos mestres sepultados na Igreja de Santa Maria-a-Velha, cuja sepultura foi destruída quando arrasaram este primitivo templo da Batalha, dela restando a pedra com a identificação, que hoje está resguardada no Museu da Comunidade Concelhia.

A caminho das Capelas Imperfeitas, vamos passar em brevíssima caminhada pelo dormitório dos frades, espaço vasto que se enquadra bem no conjunto monumental e pela elegante fonte dos frades que se situa próximo da entrada do refeitório conventual, presentemente museu evocativo da Grande Guerra e dos soldados anónimos que nela perderam a vida.

O pequeno átrio por onde passamos agora dá acesso à cozinha do Convento. Nela foi instalada a loja do então Instituto Português do Património que passará, muito em breve, para o espaço, que também servirá de saída dos visitantes, onde estiveram os nossos Bombeiros antes da construção da sua sede.

Uma chamada de atenção aos visitantes: vale a pena conhecer esta loja que inclui uma livraria temática com obras que têm interesse para todos, várias dedicadas aos mais jovens.

Passamos agora pela saída antiga onde está o busto do Rei Dom Fernando II, marido de D. Maria II. Foi este príncipe de origem alemã que se empenhou, no século XIX e depois duma visita ao monumento, na conservação do Mosteiro arruinado pelo abandono a que foi votado depois da expulsão dos frades dominicanos em 1834. Da sua notável acção resultou a nomeação, como restaurador do Mosteiro, de Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, que entre 1840 e 1843 realizou aqui uma obra merecedora de todos os elogios e da nossa maior admiração.

Estamos agora no vasto terreiro a leste do monumento. Neste espaço foram construídos dois claustros no tempo de D. João III, um deles ou os dois arruinados pelos invasores franceses em 1810/1811. Era aqui também que foi construída a Igreja de Santa Maria-a-Velha, primitivo templo da povoação que é agora a Batalha e local de sepultura de importantes mestres como Huguet e Boitaca, a que já fiz várias referências noutros apontamentos. Pedra dos claustros destruídos foi utilizada na construção da belíssima e muito original Ponta da Boitaca, erguida para aproximar a estrada real de Lisboa ao Porto, da nossa vila e obra das últimas décadas do século XIX. Evidentemente que não foi construída pelo mestre que lhe dá o nome, falecido mais de trezentos anos antes. A razão do nome deve-se ao local ser conhecido pela Boitaca, com certeza pelo célebre mestre aí ter tido no século XVI uma propriedade.

Mais uma vez volto sugerir que no local da Igreja de Santa Maria-a-Velha, onde Boitaca foi sepultado, embora já assinalado, venha a erguer-se um monumento evocativo dos Mestres, que ali tiveram o seu panteão e inclusivamente dos outros de que se desconhece a sepultura, a quem devemos na Vila, o Mosteiro e a Igreja Matriz e por todo o País obras de referência. Memorial de exaltação e de gratidão aos artistas daquele tempo mas também exemplo e incentivo para os artistas do nossos tempo.

O guia leva-nos agora às Capelas Imperfeitas. Mandadas construir por D. Duarte I, filho de D. João I, a sua descrição preencheria várias páginas do jornal. Teriam sido iniciadas por Huguet, mestre que hoje se crê catalão, e continuadas por outros mestres, dos quais o mais notável e original foi Mateus Fernandes, um português muito provavelmente natural da Covilhã, este na altura em que o estilo gótico ia dando lugar ao manuelino. Recordo: Mateus Fernandes é o único mestre com sepultura conhecida no Mosteiro. O pórtico que dá acesso interior das Capelas é uma das maravilhas da aquitectura portuguesa e, podemos dizer, do mundo.

A bordar o remate do pórtico está, três vezes repetida a primeira parte do mote (projecto de vida) de D. Duarte e repetida dezenas de vezes a segunda parte, evidentemente em francês como era uso então na Inglaterra e em Portugal. Traduzido será: “Serei leal enquanto viver”.

 

Exposições na Vila a não perder

 

No Mosteiro, na Capela do Fundador, continuará patente ao público a Exposição sobre Almada Negreiros e a sua sugestão, que para ele era crença, do destino de origem dos Painéis de São Vicente ser o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Dos Painéis, que se encontram no Museu de Arte Antiga em Lisboa, há ali uma reprodução notável, uma réplica perfeitíssima que nos extasia e nos prende largo tempo em maravilhada observação.

É uma exposição a não perder. Está patente ao público até Março.

 

Exposições no Turismo

 

Praticamente até ao fim do ano serão realizadas exposições das mais diversas temáticas. No momento está patente ao público uma sobre os fósseis, que durará todo o mês de Fevereiro.

Qualquer destas exposições e das que virão a seguir têm especial interesse para os alunos dos vários graus de ensino.

Legenda da fotografia:

A fotografia, publicada no precioso estudo e inimitável guia do Mosteiro, da autoria do saudoso Dr. Sérgio Guimarães de Andrade, edição da ELO (Lisboa-Mafra) de 1992, reproduz o canto noroeste do Claustro Real, vendo-se nos arcos da Fonte dos Frades os ornatos de Boutaca e nos arcos (à esquerda) os de Mateus Fernandes.


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