José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (192)

Os Descobrmentos Portugueses

Os Descobrimentos Portugueses não podem ser julgados com paixão política nem avaliados à luz do nosso tempo, nem tão pouco analisados como de um só acontecimento se tratasse ora glorificando-os ora condenando-os na totalidade.

Podemos dividi-los em dois períodos: o primeiro sensivelmente desde o descobrimento, em 1418, portanto no reinado de D. João I, da Ilha de Porto Santo, logo seguido, em 1419, do descobrimento da Ilha da Madeira, e ao longo de todo o século XV (além do reinado de D. João I, os reinados de D. Duarte I, D. Afonso V, D. João II e primeiros tempos do de D. Manuel I, sem esquecer a regência do Infante D. Pedro, e o segundo a partir dos finais do reinado de D. Manuel I, sublinhando desde já que esta medição do tempo é discutível, estendendo-se até ao fim da ocupação castelhana dos Filipes.

O primeiro período, com cerca de cem anos, corresponde ao da consolidação da independência de Portugal, habilmente conduzida por D. João I, e à reorganização do reino em termos da modernidade de então e, inclusivamente, de superação dos reinos europeus. É o período da preparação, em termos científicos e técnicos, dos Descobrimentos. E da sua realização.

Criam-se os novos navios, como é o caso das caravelas, inteligentemente adaptados às novas condições de navegação, aos novos mares, guiados por novos céus e impulsionados por novos ventos, chega-se a continentes ainda desconhecidos ou mal conhecidos dos europeus, escrevem-se brilhantes páginas, tantas vezes insuperáveis, da ciência náutica, da construção de navios, da astronomia, da oceanografia, da geografia, do conhecimento não só de novas terras, várias insuspeitadas, mas de novas produções agrícolas que vieram revolucionar os hábitos alimentares europeus, ao mesmo tempo que espalhavam os nossos, levam-se os nossos conhecimentos, então avançados nas mais diversas matérias, a pontos tão longínquos como a Índia, a China e o Japão, sendo significativos exemplos disso a reforma do Observatório Astronómico de Pequim pelos nossos jesuítas, a difusão do nosso e avançado modelo hospitalar desde a África ao Brasil e ao Oriente, que teve o seu ponto mais alto no gigantesco hospital de Goa com mais de duas mil camas e a que já me referi em números anteriores do “Jornal da Batalha”, ou leva-se para fora da Europa a tipografia, como aquela oferecida por D. Manuel I à Etiópia, acompanhada por mestres e oficiais desta arte, a primeira a chegar à África.

Em 13 de Abril de 1977, o distinto jornalista António de Figueiredo publicou no “Diário Popular” uma entrevista que fez ao rei Ubulué II do povo Obulu, no Benim, que intitulou “Carta da Nigéria – Lição de História por um Rei de Benim”, em que este afirmou:

“Os portugueses foram grandes amigos dos meus antepassados. Ainda hoje, no meu reino, há espécies de vacas e de cães descendentes de animais que os portugueses nos trouxeram (…). Estes colares e pulseiras que ostento hoje, foram-nos oferecidos pelos seus antepassados.

“Sabe, vocês, portugueses, ainda não recuperaram do trauma da descolonização, mas não se devem deixar abater moralmente. Não devem deixar influenciar-se demasiado por certas críticas e sentimentos de culpa (…). Afinal, continuou o rei, dos cinco séculos de colonização portuguesa em África, quatro foram-no na condição de mercadores e aliados dos nossos reis. Os portugueses prestaram uma grande contribuição à África e foram os seus antepassados que nos ensinaram a forjar o ferro e a trabalhar em madeira.

“O moderno colonialismo de ocupação foi um fenómeno mais recente, em que Portugal, pequeno e pacífico país, foi arrastado por influência da expansão do império britânico e pelo germanismo que se manifestou na Conferência de Berlim de 1895.

“Portugal, para nós, será sempre o país que bateu à porta, não a empurrou como os outros. Portanto – terminou o rei – voltem à África com o vosso engenho e espírito de iniciativa, com a vossa capacidade de adaptação”.

Ora, este meu novo apontamento sobre os nossos Descobrimentos, no tempo corrente alvos escolhidos por quem nos pretende apoucar a memória e diminuir ainda o pouco orgulho cívico que nos resta, vem a propósito duma entrevista, publicada na Revista “Visão” nº 1357, de 7 a 13 de Março último, feita ao inglês residente no nosso País, Barry Hatton, em que ele em determinado ponto diz: “Os portugueses gostam de enaltecer os Descobrimentos, mas vivem na fantasia de que foi tudo bonito e limpo. Aconteceram chacinas, massacres. É pena não terem noção da sua própria História”.

Contrariando o que o Sr. Hatton diz, há ainda portugueses que têm noção da sua própria História, que sabem que em expansões com a dimensão da nossa teria de haver violência, talvez até chacinas de que também foi vítima a nossa gente, e que sabem, e é pena não serem todos a terem disso conhecimento, que os nossos Descobrimentos abriram à Europa outros mares e outros continentes e desencadearam nalguns países europeus o propósito de nos imitar, levaram a todo o Mundo os mais avançados conhecimentos técnicos e científicos daqueles tempos, contribuíram decisivamente para desvendar os mistérios da Terra. Sobre isto, que devia ser profusamente espalhado e causa sagrada das Escolas, levaria anos a escrever e preencheria dezenas, senão centenas, de páginas deste jornal.

A imagem que se publica mostra a nau Santa Catarina do Monte Sinai que em 1512 era, com outras suas congéneres portuguesas, dos maiores navios do Mundo. Tinham uma tripulação de novecentos homens e era dotada de condições que espantaram o barão Filipe de Trevi, um veneziano e incumbido da função de espiar a nossa esquadra que fôra enviada a Génova para acompanhar a Infanta D. Isabel, filha do rei D. Manuel I, que ia desposar o duque de Saboia.

Divisão a divisão, a Casa da Cultura do Rosas do Lena

 

Vemos agora, no primeiro andar do vasto palheiro transformado em casa da Cultura, a divisão destinada não só a sala de reuniões, como as assembleias gerais do agrupamento, mas a iniciativas culturais diversas. Em finais de 2017 aqui foi gravado o mais recente disco compacto do Rosas do Lena que contém além das músicas para dançar, os Cânticos da Quaresma, os rimances, as rezas da medicina popular e as loas da “Encamisada”.

Neste espaço estão também imensos troféus do agrupamento e diplomas de muitos países em que participou em festivais internacionais e mundiais, a maior parte sob a égide do CIOFF, de que é sócio. Há ali recordações da Estónia, Lituânia, Rússia, Ucrânia, Polónia, Eslováquia, Áustria, Itália (Sicília e Sardenha), Holanda, França, Espanha, Alemanha, Sérvia, Croácia, Eslovénia, entre outros.

Uma das aulas da Escola de Concertinas e Harmónios funciona aqui regularmente. Desta divisão passa-se para o gabinete da direcção do agrupamento.

Emenda:

Por lapso meu, ao indicar no Apontamento nº 191, 2º da Encamisada, a obra de Tito Larcher sobre Nossa Senhora da Encarnação, de Leiria, escrevi Nossa Senhora da Conceição.

 

 


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