José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (172)

Divagação sobre D. Afonso V (E a Batalha)

 

D. Afonso V.

 

“Ceuta não voltará jamais… aos infiéis” Último cavaleiro medieval, a derradeira demanda do Graal foi a razão que me impelia. Devoto de Catarina de Alexandria, jurei pelo seu martírio na roda dos punhais cruéis, que Ceuta jamais voltaria às mãos dos infiéis. Cumpriu-se a minha fé em Ceuta, mas no meu reino não se cumpriria.

Antes de mais uma necessária emenda nos versos sobre D. Manuel I, publicados no número de Junho: onde se lia “para que a ventura/ me falou” devia estar “para que a ventura/ me fadou”.

1446, em Janeiro, é o ano em que D. Afonso V tendo atingido a maioridade, no seu caso e no seu tempo os 14 anos, assumia o Poder, sucedendo à regência do notável Infante D. Pedro (o das “Sete Partidas”), seu tio paterno e que havia de ser, também, seu sogro. D. Pedro governara desde 1439, proclamado “regedor e defensor do reino” nas cortes de Lisboa realizadas nesse ano.

Afastado o regente D. Pedro, que se recolhe ao seu ducado de Coimbra, o jovem rei é submetido à tutela de D. Afonso, conde de Barcelos e primeiro duque de Bragança, à dele e à do seu partido em que pontificavam também o conde de Ourém, filho do conde de Barcelos, e o arcebispo de Lisboa.

Perdida a influência do Infante D. Pedro, o partido do conde de Barcelos, partido dos interesses senhoriais, domina o jovem rei levando-o ao trágico desfecho de Alfarrobeira, em 20 de Maio de 1449, em que perde a vida o Infante e, com ele, muitos dos seus apoiantes. Inverte-se, então, e por alguns anos, a linha política e o rumo social nascidos da revolução de 1383/1385.

E abro um parênteses: desta linha e deste rumo, impulsionados pelo Mestre de Avis e continuados pelos seus filhos D. Duarte I e Infante D. Pedro, surge uma instituição sobre a qual estranho os historiadores pouco se debruçarem. Trata-se da Casa dos Vinte-e-Quatro, de âmbito concelhio mas de vincada influência sobre o Poder real, como era o caso da primeira que o próprio D. João I cria em Lisboa, cujo juiz, o designado juiz do Povo, escolhido entre os seus pares, que a ela presidia, frequentava as audiências reais dos sábados, aí apresentando livremente as queixas, as reclamações, os pedidos e as sugestões populares.

Instituição muito original, existiu ainda por alguns séculos, com altos e baixos, ao longo da dinastia de Avis e ainda em parte da dinastia de Bragança até aos séculos XVIII. A sua composição era, na maior parte dos casos, de 24 representantes, daí o nome, das 12 corporações dos ofícios, mas havia as constituídas só por 12 elementos. Tinha também o direito de interferir nas deliberações municipais sobretudo nas que respeitavam aos direitos dos mesteirais. Houve Casas dos Vinte-e-Quatro e dos Doze, além de Lisboa, no Porto, em Coimbra, em Guimarães, em Lamego, em Évora e até em Goa, entre outras.

Uma das obras de referência sobre esta matéria é a do Professor Doutor Marcello Caetano “Crise Nacional de 1383-1385 – Subsídios para o seu Estudo” (edição da Verbo). Repito: escasseiam, deploravelmente, os estudos sobre a Casa dos Vinte-e-Quatro, e de tal forma que a instituição é hoje praticamente desconhecida nas nossas Escolas. Fugi, porém, ao assunto.

Ora, morto o Infante D. Pedro, na chamada batalha de Alfarrobeira, assim designada por se ter travado junto ao ribeiro de Alfarrobeira, próximo de Alverca, esteve o seu corpo insepulto por 3 dias e depois transportado para a igreja de Alverca onde foi enterrado. Mais tarde, em segredo, os seus restos mortais são trasladados para o castelo de Abrantes onde permanecem até 1455, sendo, neste ano, por insistência da Infanta D. Isabel, notabilíssima princesa filha de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, e ainda hoje lembrada duquesa de Borgonha pelo seu casamento com Filipe o Bom, que D. Afonso V consente na sua trasladação para a Capela do Fundador do Mosteiro.

Ocupado, porém, o espaço que me está reservado, continuarei sob o mesmo tema, no próximo número, se Deus quiser.

Peça a peça, o Museu Etnográfico da Alta Estremadura

Ainda na divisão das miniaturas, onde se expõem centenas de pequenas peças, muitas com valor não só documental mas artístico, mostra-se a vitrina dedicada às festividades e às manifestações populares que as rodeiam.

Na prateleira de cima, a “oferta” com bolos de “ferradura” ou de “noiva”, a cesta com as merendeiras bentas e o coreto com os seus músicos de filarmónica, as tão apreciadas e valiosas filarmónicas que tão notável serviço prestam na formação da sensibilidade e na educação musical. Na prateleira seguinte, a procissão, obra dum barrista portuense, com dezenas de figuras, o pálio, as cruzes processionais, as imagens, os anjinhos, o sacerdote com o Santíssimo, nada lhe faltando. Em baixo, os lançadores de balões de ar quente e os fogueteiros, trabalho executado pelo destacado elemento do Rancho Rosas do Lena e mestre de concertinas e harmónios Joaquim Moreira Ruivo, que se tem dedicado à investigação etnográfica na nossa região sobretudo no que concerne aos instrumentos musicais populares. Joaquim Ruivo é desde há vários anos conselheiro técnico da Federação do Folclore Português e colaborador, na recente página sobre o Folclore regional publicada quinzenalmente no “Região de Leiria” e coordenada pelo jornalista Manuel Leiria, focando as suas recolhas sobre os instrumentos musicais.

Em 5 de Agosto, no largo do Condestável, na Batalha, o Rancho Rosas do Lena promove mais uma edição das Galas Internacionais de Folclore, a 32ª, com o habitual patrocínio da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia e do Mosteiro de Santa Maria da Vitória.


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