Ana Caseiro (Cozinheira)

À Mesa

Visita ao berço da Aguardente DOC Lourinhã

Nesta edição vamos conhecer a aguardente da Adega Cooperativa da Lourinhã, localizada na zona do oeste e fundada em 1957. Começou por dedicar-se, essencialmente, à produção de vinho tinto e branco, foi pioneira na produção de vinho leve e anos mais tarde dedicou-se também às aguardentes.

A 7 de março de 1992, o empenho de tantos, juntamente com a elevada qualidade da aguardente, viu o seu mérito reconhecido com a publicação do Decreto-Lei nº34/92 que estabelece a Região Demarcada da Aguardente Vínica de Qualidade com Denominação de Origem Controlada “Lourinhã” (1), aquela que constitui a primeira e única região demarcada do país somente para produção de aguardentes. É uma das três regiões no espaço Europeu, em posição de igualdade com as célebres aguardentes francesas, Armagnac (2) e Cognac (3).

Nos últimos anos, tem uma produção média anual de 110 toneladas de uva, que depois de vinificada e destilada dão cerca de 7.000 litros de aguardente vínica.

Esta zona tem um clima temperado mediterrânico de feição atlântica. É evidente que se carateriza-se por forte influência pela proximidade do oceano Atlântico e baixas amplitudes térmicas. No verão é frequente o nevoeiro durante a manhã e raramente ocorrem vagas de calor. O solo é heterogéneo e com baixa fertilidade.

As melhores castas escolhidas e autorizadas para a região demarcada para assim garantir a qualidade máxima são Malvasia Rei, casta Fernão Pires e Tália.

As aguardentes são extremamente aromáticas por transmitirem o caráter das castas utilizadas, da região, das condições edafoclimáticas e também do fator humano. O terroir desta região determina as características qualitativas, especialmente das aromáticas presentes nos vinhos que dão origem à Aguardente DOC Lourinhã.

Ao longo de décadas, os processos de investigação foram desenvolvidos e levaram à demarcação da região, com o apoio da comercialização e divulgação da aguardente, bem como o apoio à Investigação Científica dirigida às aguardentes, que tem vindo a ser realizado com a Estação Vitivinícola Nacional.

Na visita à Adega Cooperativa da Lourinhã, Nádia Santos, enóloga, apresenta o processo desde apanha da uva até a fase final a rotulagem da garrafa.

A colheita realiza-se quando as uvas possuem um determinado teor de açucares que irá dar origem a certa quantidade de álcool num vinho. O título alcoolométrico máximo do vinho produzido são 10%.

A vinificação utiliza métodos e práticas enológicas legalmente autorizadas e tradicionais da região. Para obter um litro de aguardente são necessários cerca de 10 litros de vinho. A fase seguinte é a destilação quando o grau alcoólico atinge os 74% e 77 % através do sistema coluna em cobre que ocorre entre os meses de outubro e novembro.

Após a destilação, a aguardente passa por um período obrigatório de envelhecimento em barricas de madeira (mínimo de dois anos), dependendo do tempo uma classificação de envelhecimento que lhe confere diversas qualidades. A sua cor, suavidade e aromas devem-se ao estágio.

É feita em barris de carvalho português e francês, e castanheiro, com capacidade inferior a 800 litros e diferentes queimas no interior do barril (tosta ligeira, média ou forte). A aguardente apresenta-se pura, sem qualquer adição de corantes.

Desde o início da produção como região demarcada que o processo de engarrafamento e rotulagem é todo manual. Cada garrafa é numerada e exclusiva tornando o produto único e de elevado valor.

As menções tradicionais utilizadas na indicação da rotulagem são as seguintes: VS ou Very Superior menção reservada a aguardentes sujeitas a um envelhecimento igual ou superior a dois anos, VSOP ou Very Superior Old Pale menção reservada para aguardentes sujeitas a um envelhecimento superior ou igual a quatro anos e por fim XO ou Extra Old menção reservada para aguardentes sujeitas a um envelhecimento igual ou superior a cinco anos.

Recomendo a visita a adega. É um experiência única, podendo conhecer o processo completo numa visita às instalações acompanhado pela enóloga Nádia Santos. No final tem oportunidade de degustar aguardentes. Para tal basta ligar para marcar ou através do site https://doc-lourinha.pt/.

 


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