José Travaços Santos

Baú da Memória

“A Viagem do Descobrimento”, de Eduardo Bueno

Continua por explicar a falta duma reacção dos governos e da gente da Cultura aos ataques de minorias radicais aos valores portugueses. Tenta-se apagar o verdadeiro sentido dos Descobrimentos, aquela primeira parte do sacrifício sobre-humano e de descobertas essenciais nas áreas de construção naval, da navegação, do conhecimento de insuspeitados céus e de não menos insuspeitados ventos e correntes marítimas e, muito particularmente, dum contorno da Terra até ali desconhecido.

Do livro “A Viagem do Descobrimento – A verdadeira história da expedição de Cabral”, obra que recomendo aos leitores, recorto: “… o impulso que estava conduzindo Cabral da Europa até à Ásia e o levando a descobrir o Brasil no meio do caminho – era um pequeno movimento na grande sinfonia que configura o processo da expansão dos portugueses ao redor do globo. Para compreender mais plenamente esta viagem, é preciso empreender outra. E nem sequer se limita ao início dos descobrimentos marítimos, mas retrocede ao momento em que, cercado de ameaças e sem saídas para o mar Mediterrâneo, isolado na orla ocidental da Cristandade, o povo de uma das menores nações da Europa viu-se impelido a explorar as águas de um oceano desconhecido”.

“Ao concretizar plenamente sua vertigem expansionista, os portugueses tornariam seu país o pólo a partir do qual a Europa seria capaz de provar para o bem e para o mal, que – como num provérbio budista – tudo está unido e interligado. A exploração do globo pelos navegadores portugueses e a consequente expansão da civilização europeia – em meio às quais o “achamento” do Brasil se tornaria uma das pérolas mais vistosas – se constituíram em uma das mais admiráveis aventuras das tantas que marcaram o milénio que se encerra. (lembro que o livro foi editado no milénio que findou em 2000)…”.

Lembro ainda que Eduardo Bueno é um erudito brasileiro, aliás muito respeitado nos meios intelectuais do seu país. A edição é brasileira tratando-se do primeiro volume da “Coleção Terra Brasilis” da editora “Objetiva”. Esta colecção teve como consultor técnico o historiador e professor universitário Ronaldo Vainfas.

Os extremistas, que tentam enegrecer as memórias do Povo Português e a memória dos nossos antepassados, ignoram, suponho que na maior parte dos casos, tudo o que se relaciona com a primeira fase da expansão e os benefícios que dela advieram para a ciência náutica, para o conhecimento e avanço da astronomia e geofísica, e da geografia, entre muitos outros para o mundo de então e, evidentemente, com indeléveis benefícios para a Humanidade.

Como diz Eduardo Bueno “o povo de uma das menores nações da Europa viu-se impelido a explorar as águas de um oceano desconhecido”.


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