Núcleo de Combatentes da Batalha

Notícias dos Combatentes

Valor€s €squ€cidos

Decorria o dia 11 de outubro quando os meninos de uma turminha de um infantário da vila da Batalha brincavam no recém-inaugurado Memorial ao Combatente Batalhense, pisoteando-o, perante a passividade da sua educadora. Tal atitude, aceitável por parte da inocência das crianças, mas reprovável por parte da educadora – que tal explicar o simbolismo do monumento às crianças em vez de as deixar pisar livremente? – leva-nos a pensar que, hoje, os valores têm mesmo só a conotação monetária, assunto já aqui abordado há tempos.

A “evolução” da sociedade continua a remeter, cada mais, o Ser Humano para segundo plano. As necessidades, como Maslow as constituiu na sua pirâmide, deixaram de fazer sentido. Ao chegar-se à estação de comboios de Santa Apolónia, em Lisboa, e não só, continuamos a deparar-nos com Wi-Fi gratuito mas, para satisfazer uma necessidade primária, como a utilização dos sanitários públicos, é necessário pagar a quantia de 0,50 euros para passar as portas automáticas e realizar o alívio.

A pirâmide inverteu-se e os valores sociais também. A época em que se vive desvaloriza cada vez mais a vida humana.

Legisla-se em favor de grupos minoritários, esquecendo o Ser Humano normal. Quase que, para se ter direitos, hoje em dia, o melhor será ingressar numa qualquer minoria, pois os que a compõem são relembrados a cada minuto que passa e todas as suas reivindicações satisfeitas, sejam elas quais forem. A lei, para ser justa, terá de ser pensada igual para todos; os direitos terão de existir pela qualidade de se ser Humano e não por pertença ao que quer que seja, devendo ser compensatória para quem cumpre as regras da sociedade e não o oposto. Enquanto se criam condições nas prisões com quartos de casal para visitas íntimas de três horas, os idosos são esquecidos em lares degradados, muito piores que prisões do terceiro mundo. Numa visita hospitalar, para se estar com os entes queridos, é concedido muito menos tempo que a uma visita prisional.

Quando pormenorizamos e priorizamos grupos sociais, em vez de igualizar a sociedade como um todo, passamos a ter cidadãos de primeira e cidadãos de segunda.

Tudo o que outrora já foi falso agora é verdade, e tudo o que já foi imoral é agora moral. Em apenas quatro gerações assistimos à reengenharia do comportamento humano e dos valores, para promover tudo o que é desviante e pervertido.

O que está simplesmente a acontecer é um novo fenómeno sociológico: a manipulação dos seres humanos para entrarem no seu estado mais fraco. Essa elaboração impede a formação da família e facilita o seu controlo. Quando os seres humanos são movidos por sentimentos transitórios de luxúria e gula, em vez de rituais tradicionais e moderados, acabam por se tornar escravos dos seus desejos e das necessidades atuais que lhes são impostas.

A inversão da pirâmide e, subsequentemente, da sociedade pode ser facilmente vista em nosso redor.

Defendem-se direitos dos animais na Assembleia da República, manifestam-se frente às praças de touros, mas ninguém se junta em demonstrações de apoio aos profissionais de saúde para denunciar as condições de internamento hospitalar dos pares humanos. Aliás, já foram esquecidos os profissionais que foram pagos com aplausos e com um evento de futebol! Quantos abandonaram a carreira, entretanto?

Compra-se tecnologia mas nega-se caridade.

Passeiam-se os cães aos fins-de-semana mas os pais e avós ficam encerrados nos lares.

Passada a cerimónia de finados, em que honramos os nossos camaradas combatentes que já nos deixaram, devemos então, nos restantes 364 dias, voltar a pensar em cuidar dos vivos, e não o contrário, só por dar menos trabalho.

Repensemos bem alto a sociedade, e não tenhamos medo de afirmar quais os nossos ideais, pois quem cala consente.

 


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