José Travaços Santos
Apontamentos sobre a História da Batalha (234)
Uma obra notável e invulgar, a do Professor José Ribeiro de Sousa
No Horto das Oliveiras
Moram em mim silêncios e desertos
que a dimensão humana não mensura.
São longos os caminhos encobertos
onde a minha alma errante em vão procura.
Sinto a solidão dos púlpitos abertos
nos alcantis e cerros da lonjura.
Sucedem-se as angústias dos dispersos
vendavais ululantes da planura.
Horas vazias sem sentir nem credo.
Todo me esqueço, abúlico e quedo,
nada mais do que um roble velho e seco.
Ó Deus! Que medo escondo de acordar
e achar abandonado o teu lugar,
chamar-te… e responder-me um simples eco.
A abrir o “Apontamento” deste mês de Outubro um expressivo soneto do Professor José Ribeiro de Sousa, poema que ele dedicou a outro grande vulto da nossa região, o Dr. Afonso de Sousa.
Mas não é à sua Poesia, toda de excepcional elevação, que me vou referir, mas sim a uma obra póstuma acabada de editar por acção dum jovem intelectual, talentoso, com trabalhos de investigação de comprovada qualidade, peças que vêm enriquecer, e de que maneira, o acervo estremenho. Trata-se de “Achegas para a História e Etnografia da Costa – Maceira” do Professor José Ribeiro de Sousa, edição, organização e revisão científica do Dr. André Camponês, que também prefaciou a obra. As notas biográficas foram elaboradas por José Manuel André e o Maestro Joaquim Vicente Narciso, a quem se deve o apoio e organização do notabilíssimo “Cancioneiro de Entre Mar e Serra da Alta Estremadura” escreveu à “guisa de prólogo” um texto com preciosas informações. José Manuel André é genro do Prof. Ribeiro de Sousa.
Há cerca de trinta anos acompanhei o notável Etnomusicólogo Dr. José Alberto Sardinha numa sua pesquisa etnográfica na nossa região. Quando fomos a casa do Prof. José ribeiro de Sousa, e fomos lá várias vezes, o Dr. Alberto Sardinha, depois de muita insistência junto do visitado, conseguiu ter acesso a parte das recolhas, aquelas a que alguns anos depois, por acção do Maestro Vicente Narciso e apoio da Câmara Municipal de Leiria, nomeadamente da então presidente Drª. Isabel Damasceno de Campos e do vereador da Cultura Dr. Vítor Manuel Domingues Lourenço, deram azo ao magnífico “Cancioneiro de Entre Mar e Serra da Alta Estremadura”.
O Dr. Alberto Sardinha ficou espantado com a quantidade e com a qualidade das recolhas, dizendo-me que nas suas pesquisas pelo País nunca encontrara recolha tão vasta. No seu magnífico “Tradições Musicais da Estremadura” publicou sete das partituras da colecção do Prof. Ribeiro de Sousa, todas com identificação e fotografia do investigador da Costa-Maceira.
Mas como agora se vê pela publicação das “Achegas para a História e Etnografia da Costa – Maceira”, por notável acção do Dr. André Camponês, não se esgotou o acervo, dizendo-me o jovem investigador que, mercê do cuidado que teve o genro do Prof. Ribeiro de Sousa, se recolheu matéria para vários livros.
Neste, há informações sobre a terra, o homem e a aldeia, até à casa, aos trajos… enfim a tudo o que respeita, sob os pontos de vista histórico e etnográfico, ao povo duma região.
Chegados aqui é pertinente trazer de novo à baila a questão da província a que pertencemos. Quando começou, a partir do castelo de Leiria, a segunda metade de Portugal, todo o novo território se integrou na Estremadura, denominação então deste vasto território implantado à beira do Oceano e Estremadura ficou até 1937 quando um decreto do Terreiro do Paço resolveu meter numa então inventada Beira Litoral a sua parte norte, de Pombal até Leiria e Batalha. Comigo aconteceu ter-me deitado , na noite de 31 de Dezembro de 1936 na Estremadura ter acordado na manhã de 1 de Janeiro de 1937 na Beira Litoral… Coisas que os decretos fazem…
Ora, historicamente, porque quase oito séculos não se apagam por decretos do Terreiro do Paço, Pombal, Leiria e a Batalha foram terra estremenha e da Estremadura herdaram o feitio e o jeito. As casas, os trajos (quando eram distintivos), o cancioneiro, os usos, a pronúncia, e diversas outras características separam nitidamente os três concelhos do aro conimbricense. Evidentemente não era desonroso estar nele inserido mas a verdade secular é que não estava. É por isso que a etnografia desta parte norte da Estremadura difere tanto da dos campos do Mondego e mais ainda da das Beiras.
O Dr. Pedro Homem de Melo, o Dr. Afonso Lopes Vieira, o Professor José ribeiro de Sousa, perceberam-no bem e disso dão conta no que escreveram acerca da questão.
“Achegas para a História e Etnografia da Costa-Maceira”, revelando as diferenças e originalidades dum expressivo pedaço de território estremenho revela-nos bem as distinções que criaram a fronteira secular entre a Estremadura e as Beiras.
Bombeiros, um exemplo de heroísmo e altruísmo
Os Bombeiros ganharam, mais uma vez, neste tenebroso Verão, o direito à nossa admiração e à nossa gratidão. Agiram, até ultrapassar o limite das forças, como lhes é habitual, num combate contra incêndios de tremendas proporções, acudindo prontamente às populações atemorizadas.
Mas a este esforço, quase sobrehumano, há que contrapor uma, talvez aparente, falta de providências preventivas dos poderes estabelecidos. Será que a vigilância das zonas em risco é suficiente? Será que a limpeza das matas tem sido feita com o rigor exigido? Será que chegam os meios aéreos de combate, em que também é de destacar a heroicidade dos pilotos aviadores? Entre outras questões.
A resposta a estas e a outras dúvidas não deve ser guardada para o próximo Verão. Deve ser desde já preparada e sujeita a vasto debate público, em que todos nós temos o dever de participar.
A violência devia preocupar-nos seriamente
Agride-se hoje, por dá cá aquela palha, numa explosão de ódio irracional. E isto é motivo para nos preocuparmos seriamente. E continuo a dizer: a violência propagada, de forma aliciante, em certos filmes, tem as suas culpas no cartório.
Mais do que nunca, devíamos incutir nas novas gerações o respeito pelos outros seres humanos e o princípio cristão da fraternidade. A isto chama-se civilização e será o primeiro pilar da paz e do progresso.
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