Artigo de José Meireles
Membro do Núcleo de Estudos de Doença Vascular Pulmonar da SPMI
Uma em cada quatro morre de complicações da trombose
O Dia Mundial da Trombose celebra-se no dia 13 de outubro, data escolhida pela Sociedade Internacional de Trombose e Hemostase para assinalar um problema crescente na nossa sociedade – o tromboembolismo venoso e a fibrilhação auricular. A data coincide com o nascimento de Rudolf Virchow, um patologista alemão do séc. XIX que foi pioneiro no estudo das causas da trombose.
O tromboembolismo venoso caracteriza-se pela formação de uma trombose (ou coágulo) na veia de uma perna (ou outros locais) e que se pode libertar e alojar na circulação pulmonar (embolia pulmonar), o que pode ser fatal. Os sintomas da trombose são inchaço (edema), alterações na cor da pele (rubor) e da temperatura (calor) do membro; da embolia pulmonar são falta de ar, dor torácica, palpitações, desmaio.
A fibrilhação auricular é uma alteração no funcionamento do coração que aumenta o risco de formação de coágulos na aurícula esquerda, que se podem deslocar provocando um acidente vascular cerebral.
O tromboembolismo é considerado a terceira causa de morte cardiovascular no mundo, ultrapassando na União Europeia o número de mortes por neoplasias da próstata e da mama, SIDA e por acidentes rodoviários. Uma em cada quatro pessoas no mundo morre de complicações relacionadas com a trombose. O risco é maior nos obesos, aumenta com a idade e pensa-se que a prevalência irá duplicar até 2050.
É uma doença multifatorial complexa, assente na interação de fatores inatos com adquiridos, predisponentes para trombose. São fatores de risco elevado um internamento hospitalar por doença, cirurgia ou imobilidade, traumatismo com fratura de grande osso; moderado a idade acima dos 60 anos, história pessoal ou familiar de tromboembolismo, neoplasia e/ou quimioterapia, uso de terapêutica hormonal de substituição; ligeiro a obesidade, gravidez ou puerpério (período após o parto), tabagismo, entre outros. Os fatores inatos não são modificáveis (como algumas mutações que aumentam o risco para trombose, vulgo trombofilias); alguns dos fatores adquiridos podem ser modificados (como o tabagismo ou terapia hormonal) mas outros não, como uma intervenção cirúrgica ou uma fratura óssea.
Mais de 60% dos casos de tromboembolismo venoso estão relacionados com cuidados de saúde e, nestes casos, o risco pode ser diminuído através tromboprofilaxia, com medicamentos que diminuem o risco de formação de trombos (anticoagulantes). Já o tratamento após um episódio de tromboembolismo venoso passa pelo uso de anticoagulantes em doses superiores, geralmente por um mínimo de três meses, mas o tempo de tratamento deverá ser decidido em conjunto com o Médico, tendo em conta os fatores do doente e do evento que causou a trombose.
O tratamento adequado minimiza o risco de mortalidade na fase aguda, bem como o risco de desenvolver complicações a longo prazo, como a síndrome pós-trombótica em que persistem dor e alterações da pele no membro que sofreu trombose, ou a complicação mais grave que é a hipertensão pulmonar. Esta pode ser curável através de cirurgia (uma operação em que são retirados os remanescentes de coágulos das artérias pulmonares) ou, quando isso não é possível, com medicamentos que dilatam as artérias pulmonares, mas estes são de uso exclusivo hospitalar e em Portugal só são disponibilizados em Centros de Referência para o seu tratamento.
O mais importante é prevenir e para isso não se esqueça, mexa-se pela sua saúde!
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