Francisco Oliveira Simões
Crónicas do Passado
Trespassa-se
Este mês o tema do artigo tarda em chegar. Procuro entre os meus pensamentos e manuscritos soltos pela secretária, mas nada aparece. Espero que chegue na alvorada um cavaleiro andante que me resgate deste vazio criativo, o autor desesperado e em apuros, tal como uma donzela desampara numa torre de um qualquer castelo longínquo.
Desembrulho papeis amarelecidos pelo tempo, neles guardo memórias e relatos trovadorescos, mas nada se destina a este tão prestigiado periódico, que muito estimo.
Descobri qualquer coisa, vamos ver o que encontro nesta página solta, pode ser que tenha encontrado algo. Afinal nada está perdido. Vou transcrevê-lo para que possam apreciá-lo com toda a clareza: “Lista de Compras: pão; manteiga; azeite; vinho…”.
Afinal enganei-me, este mês está complicado. Só me resta admitir o meu erro e apresentar as minhas mais sinceras desculpas… Finalmente vislumbrei algo de interesse geral, trata-se de uma investigação intitulada Os Riscos de Passear na Floresta Durante o Período da Peste Negra – Conquistas, Retrocessos e Desafios na Era das Trevas Iluminadas. Infelizmente não o vou poder publicar na íntegra devido à sua extensão, pois desenvolve-se por trezentas páginas, fora os anexos.
Em tempos levei a cabo uma investigação sobre a Livraria Real, na época de D. João I e de D. Duarte. Vou deixar aqui um pouco desses escritos:
“D. João I revela que a literatura, como meio cultural, é deveras importante, para que no futuro se conheça as memórias e saberes antecessores. Esta perspetiva mostra a viragem do século XIV para o XV, com a aclamação de uma nova dinastia, dando-se início a uma época boreal das letras em Portugal, reconhecida por inúmeros estudiosos.
O aspeto interessante da dinastia de Avis, no que concerne à ciência das letras, é sem dúvida a sua produção literária, rompendo com a exclusividade medieval da literatura clerical. Revelando que a aristocracia começava-se a interessar pela escrita, a par da sua predominante ocupação, as armas. Abrindo, desta forma, o período da História Moderna portuguesa, após a pacificação com Castela, selada no ano de 1411.
Os principais impulsionadores desta nova abertura às letras foram: o Rei D. João I; o Rei D. Duarte; e o Infante D. Pedro. Que além de editarem as suas próprias obras, também se dedicaram a traduzir, para português, alguns ensaios clássicos, exemplares dignos da era humanista, que começa a surgir
D. Duarte tinha uma livraria vasta, composta por cerca de oitenta volumes, quase todos de cariz religioso, mas com títulos clássicos latinos e gregos. Esta sua coleção suplantava a de seu pai e até do Rei inglês Ricardo II, que obtinha apenas vinte livros, revelando-se assim uma das maiores coleções das casas reais da época. Mas quem detinha um grande número de livros, entre religiosos, clássicos e profanos, era João, Duque de Berry, que ainda no século XIV tinha cento e cinquenta livros na sua biblioteca, apesar disso era um número inferior se comparado com o maior colecionador da época, o Rei D. Afonso V de Aragão, com o extraordinário volume de mil obras. Em Portugal as bibliotecas monásticas chegam a ter cerca de quinhentos exemplares, entre livros das horas e códices. Mas com o aparecimento da tipografia, começaram a aparecer coleções vastas, como a de D. Teodósio, Duque de Bragança, que detinha mil e quinhentos e noventa e seis livros.”
Como veem este mês não tenho artigo, peço que me desculpem e prometo ter algo melhor para apresentar no próximo número do Jornal da Batalha.
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