Joana Magalhães
Pestanas que falam
Trabalho, casa e futebol ao domingo de manhã
O futebol já não é o que era para mim. Quando era (mais) miúda gostava de futebol porque tinha ‘a mania’ que era maria rapaz e vestia a roupa do meu irmão. Isso rapidamente passou e com a mesma velocidade o futebol passou apenas a ser algo de que ‘ouvia falar’ e dizia que era sportinguista porque ‘é de família’. Mas isso mudou, como há sempre algo que muda quando alguém estranho entra na nossa vida e decide ficar por cá. E calhou ser treinador de futebol.
No mês passado falava da sopa dos pais e do cozido da avó. Este mês tenho de falar do futebol da ‘terrinha’ e dessa sensação de estar em casa.
Numa cidade como Lisboa, onde trabalho, muitas vezes somos apanhados por uma sensação avassaladora de que as ruas são muito grandes para nós, cheias de gente, e gente que nem dá conta da nossa passagem. É coisa das grandes capitais, como se diz na ‘terrinha’, certamente.
O futebol, carinhosamente designado de, da ‘terrinha’, é o ponto de encontro rotineiro onde as pessoas do costume fazem as perguntas do costume: “como vai a capital?”, “escreveste muito esta semana?”, “quando voltas?”, “estás a gostar?”;
Perguntas simples mas de conforto para quem foi fazer ‘visita de médico’ a casa. Os miúdos correm dentro do campo e o treinador ‘aperta com eles’. Fora das quatro linhas, as palavras de força são muitas e o convívio também. É um grupo que se forma e é mais um lugar onde voltar todas as semanas e contar as novidades.


Fazer parte de um lugar é precisamente querer lá voltar e encontrar a sensação de conforto que parece distante numa cidade com ruas longas e (demasiado) povoadas. Um lugar onde nada parece mudar a não ser o tamanho dos miúdos, que crescem a ‘olhos vistos’.
É, principalmente, partilha. O futebol não teria graça se não fosse partilhado, se não houvesse um grupo destinado para aqueles 90 minutos em que o que se passa não é só futebol. É partilha. E no caso do futebol da ‘terrinha’ é aprendizagem.
Sopa, cozido da avó ou futebol ao domingo de manhã, o que realmente importa é ter esses lugares e essas sensações onde se volta à procura do ‘quentinho’ de casa.
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