Joana Magalhães
Pestanas que Falam
Trabalhar aleija
Há duas semanas que olho para a minha mesinha de cabeceira e vejo o novo livro do Ricardo Araújo Pereira, “Estar vivo aleija”. Há duas semanas que o livro permanece, por ler, no primeiro sítio onde o pousei quando cheguei a casa. No entanto, só o título já me leva à reflexão acerca do seu significado. Eu mudaria para: “Trabalhar aleija”. Arrisco isto sem saber sequer o conteúdo do livro. Mas a verdade é que se não fosse o trabalho certamente que o livro estaria já lido e a lição estudada. O que não é o caso, uma vez que assim que me deito na cama o sono é mais forte que eu e do título não consigo passar.


Trabalhar, de facto, aleija. Até podia puxar do cliché "faz o que gostas e não terás de trabalhar um único dia na vida" mas duvido que mesmo a fazer o meu trabalho de sonho não tenha vontade de, de vez em quando, enrolar tudo numa bola de papel e atirar fora (para não dizer pior). Trabalha-se para se poder viver, o que só por si já não faz sentido. Se se trabalha só para viver então não se vive, sobrevive-se. Viver era trabalhar 10% do dia e aproveitar os 90% que sobram, e... Mesmo assim... Mas nós trabalhamos mais de metade do dia, ou das horas em que estamos acordados, e depois, sobram quantas horas para viver? Não me parece... Por isso sim, trabalhar aleija e não acredito que passe com o tempo. Se calhar melhora com a rotina, mas não passa.
Mas, como se costuma dizer "quando eu mandar nisto tudo não vai ser nada assim". Quem sabe, um dia.
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