Francisco André Santos

Diacrónicas

Sustentabilidade

Tenho-me preocupado com o luxuoso dilema da sustentabilidade. Na equação, incluo a minha independência, desenvolvida este mês com uma conta bancaria Holandesa. Quinta-feira vou fazer uma conta no Banco Rabo. Naturalmente que acho muito giro fazer transferências do Rabo para Portugal, mas além da gracinha, parece ser uma opção sustentável.

Nessa revisão, perguntei à minha namorada pela melhor opção. Infelizmente, o recomendável esquilo que traz no cartão, fala apenas holandês. Procurando na Internet, informo-me que apenas três bancos têm informações em inglês: o ING, o ABN e o Rabo. “Acho que vou arranjar uma conta no ING. É o maior e é em inglês, sabes? Vai pró… vais apoiar a compra de armas! És impossível”.

Como o leitor percebeu, há sentimentos que não têm tradução. Mas à minha preocupação de ficar novamente pendurado sem conseguir pagar a cerveja por algum bar, acresce agora onde é que hão de os holandeses gastar a penúria da minha conta. Abaixo do ordenado mínimo, infelizmente concluo que se tenho paciência suficiente para perseguir os tipos do Media Markt para que me devolvam o dinheiro do telemóvel, também haverei de conseguir ter uma conta no Rabo, que mal por mal, sempre é uma cooperativa.

Mas a sustentabilidade, é na verdade, uma unidade de medida. Se bem que hoje posso comprar uma cerveja belga, se o fizer todos os dias da semana, nem uma Heineken consigo comprar no supermercado durante o fim de semana. Perceba-se que a Heineken é bem mazinha, mas aqui dizemo-lo abertamente. Infelizmente, não me chega o sustento para manter o hábito das cervejas finas que costumava ganhar a cada turno. Quando devidamente informada, a sustentabilidade torna-se uma escolha económica. E como não tenho tido facilidade de acesso à minha conta, a minha escolha revelou-se tanto desinformada como insustentável.

À liberdade de escolha de cada um, está adjacente um custo coletivo, económico e ambiental. Quando compro carne biológica, reduzo o dinheiro que tenho para gastar. Mas quando o restaurante escolhe não servir carne biológica, a sua margem de lucro aumenta em detrimento do consumo de carne sustentável. Subindo mais na escala, e temos escolhas politicas, que se devidamente informada, deveriam promover e incentivar a melhor opção coletiva a diferentes níveis de produção e consumo.

Ao consumidor informado, resta-lhe o troco. E mudar de hábitos, infelizmente cabe apenas nessa troca. Mas a produção sustentável também tem uma escala medida pela descentralização e eficiência assim como pela partilha dos custos e resultados de produção. Esta medida só será possível quando os sacrifícios individuais se desenvolverem como consciência coletiva. No final, será a minha e as próximas gerações a pagar com uma subsistência regenerativa ou um fosso de pobreza. Se poder, faça a escolha certa.

Enquanto trabalho pela minha independência, consciente e com a cerveja belga ocasional, ainda me falta alguma facilidade para reciclar aqui no bairro. Ainda assim, deixo a minha tralha toda no sofá antes de ir para o supermercado com a mochila às costas, onde fico sempre à caça da validade curta, descontada na fatura. Enquanto isso, aprendo com os melhores hábitos dos que estão à minha volta e me ajudam a ser melhor para todos.

E por isso, começo com uma conta no banco. No final do dia, ela tem razão: a minha escolha do Rabo não me trama no futuro, senão não temos tradução.


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