João Pedro Matos

Tesouros da Música Portuguesa

As singularidades da alma

O grupo Expensive Soul constitui um daqueles casos de eclectismo da música, havendo recebido uma multiplicidade de influências para espelhar outras tantas referências que vão do Hip-Hop ao Reggae, passando pelo R&B até, obviamente, à Soul. E, no entanto, criou um estilo próprio, muito festivo, que convida à dança e à celebração de dias quentes e plenos de Sol. Estamos, portanto, perante uma banda do sul da Europa, não obstante ser oriunda do norte do nosso país (mais concretamente de Leça da Palmeira), porque só uma banda latina podia ser tão apaixonada e suscitar tanto entusiasmo em seu redor, quer através dos seus discos, quer nas suas prestações ao vivo.

Mas, antes de avançarmos em mais considerações, vamos apresentar os Expensive Soul. Este duo, constituído por Demo (pseudónimo artístico de António Conde) e New Max (nome artístico de Tiago Novo), surgiu em 1999, na sequência de um concurso para uma estação de rádio que havia lançado o repto a músicos para falarem do problema da droga. A verdade é que os dois músicos já se conheciam dos tempos do liceu, mas foi este concurso radiofónico que os lançou, visto ter-lhes permitido atuar ao vivo para os seus ouvintes. Editaram a nível nacional o seu primeiro álbum apenas em 2005, trabalho produzido no estúdio particular que pertencia a New Max; designado por B.I., o disco já antes havia sido lançado pela sua editora independente e com sucesso. Mas ao assinarem por uma grande editora, conseguiram que o tema Eu Não Sei integrasse a banda sonora da série de televisão Morangos Com Açúcar. E o tema Falas Disso, seguiu a peugada do anterior, fazendo parte da banda sonora da terceira temporada da mesma série.

No ano seguinte, editam o segundo registo de originais, intitulado Alma Cara. Tratava-se de um jogo de palavras sobre o próprio nome da banda; mas também não ficaria mal traduzi-la por singularidades da alma, tantas são as facetas e a diversidade de aspetos que podemos encontrar neste projeto musical. A realidade é que apesar deste caleidoscópio musical, caleidoscópio ainda mais colorido pela contribuição da sua banda de suporte (a Jaguar Band, a qual possui uma secção de metais notável), o grupo parecia estar talhado para o êxito. Assim, não admira que houvesse sido nomeado para os MTV Europe Music Awards de 2006.

No entanto, foi só em 2010 que se assistiu à massificação do êxito dos Expensive Soul, muito à custa do álbum Utopia e particularmente por causa do single dele extraído, O Amor é Mágico. Em 2012, participaram na Capital Europeia de Cultura que nesse ano se realizou em Guimarães com o espetáculo Expensive Soul Symphonic Experience, o qual contou com a direção musical do maestro Rui Massena. A Expensive Soul Symphonic Experience foi, como o próprio nome indica, uma incursão nos domínios da música dita erudita e constituiu um projeto de fusão entre a clássica e a música popular. Foi, na nossa modesta opinião, o ponto mais alto da carreira do grupo, porque lhe permitiu demonstrar capaz de outros voos e até um grande arrojo em termos musicais.

Sonhador data de 2014 e será talvez, relativamente a trabalhos de originais, o álbum mais coerente e conseguido da banda. Dele foram extraídos três singles de sucesso: Cupido, Que Saudade e Só Limar. Mas o disco tem outras preciosidades, como o tema de abertura, Progresso, que é uma crítica mordaz à sociedade contemporânea. Electricidade alinha pelo diapasão da dança e é uma peça que destaca-se logo em termos de arranjos. Não Te Vás Já balança entre o Twist e a Soul, e encerra um disco que é obrigatório em qualquer boa fonoteca.

A Sonhador seguiu-se o álbum Ao Vivo Nos Coliseus, de 2016, e A Arte das Musas, de 2019. Em conclusão, por todos estes motivos e principalmente pela audição atenta da sua música, a atividade deste duo deverá continuar a ser acompanhada com atenção.


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