A Opinião de António Lucas

Ex-presidente da Câmara da Batalha

Serviços públicos em tempos de Covid

Temos que enaltecer o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e os seus operacionais pelo excelente trabalho que têm vindo a desenvolver em prol da população portuguesa. Refiro-me obviamente a todos em termos abstratos, sabendo nós que existem muitas exceções de gente incompetente, desleixada e que só quer o fim do mês para receber o ordenado, o que vem confirmar a regra.

Já no que respeita aos restantes serviços públicos, em que a pressão aliviou fortemente devido ao facto de não terem prazos de resposta; da economia ter desacelerado e ainda devido à suspensão dos prazos, sente-se que muitos deles vivem num mundo à parte, já que o salário ao fim do mês está na conta.

E aqui encontramos o normal, respondendo às solicitações dos cidadãos e das empresas, dentro de prazos razoáveis e o mau e muito mau, em que ou respondem tarde, ou pura e simplesmente não respondem.

Isto é simplesmente inaceitável e devia ser intolerável, até porque quem lhe solicita o serviço é também quem lhes paga o salário. Por onde andam as chefias? Devem estar apenas em teletrabalho, sem controlar os serviços de sua responsabilidade. E por onde andam os políticos que tem responsabilidades por cada um dos serviços públicos?

Será isto aceitável?

Será admissível os cidadãos esperarem horas às portas dos serviços públicos e não só?

Como irão fazer quando vier o inverno que se aproxima?

As pessoas vão continuar a ficar na rua?

Será admissível os cidadãos cansarem-se a tentar telefonar e ninguém os atender?

Por onde andam os funcionários?

Será admissível remeterem-se e-mails para os serviços e não se obter qualquer resposta?

Por onde andarão os funcionários?

Isto é recorrente em diversos serviços públicos, incluindo alguns de saúde.

Será isto admissível? Será isto aceitável?

Não, não é, nem admissível, nem aceitável.

Nos momentos em que o cidadão comum mais precisa é quando os serviços públicos devem estar mais disponíveis para o servir, razão de ser da sua existência. Se não for assim, estará tudo invertido e a democracia não irá muito bem.

As empresas privadas, na sua generalidade, passam por momentos difíceis, assim como os seus colaboradores, não obstante alguns apoios públicos, como o lay-off e outros. Nem todos têm garantia do salário na conta por volta do dia 20, nem tão pouco da continuidade do emprego ou do negócio. Será bom que os funcionários públicos tenham noção disto e se dediquem de alma e coração ao seu emprego e à prestação de serviços de qualidade, em tempo útil, aos seus clientes, ou seja, aos cidadãos deste concelho e deste país.

Tenho que deixar claro que existem muitos funcionários públicos competentes, dedicados e esforçados, que não só merecem o salário que auferem, como mereciam muito mais, e digo isto com conhecimento de causa, mas também existem diversos que não merecem o salário que lhes pagamos e estavam bem no privado para saberem o que é o trabalho por conta de outrem. Ou então também não seria mau obrigaram-nos a trabalhar por conta própria e a terem a obrigação de pagar salários e assumir os impostos e responsabilidades que os empresários têm que assumir. Acho que a seguir, e no regresso ao seu lugar de funcionários públicos, seriam excelentes trabalhadores.

Esta é uma daquelas situações em que os cidadãos, mormente os menos favorecidos, precisam mais do Estado. Este é também um daqueles momentos em que a função do Estado é mais importante para o país e o que se pede a todos os funcionários públicos é que se dignifiquem à nobre função que desempenham.

Quero deixar um grande agradecimento a todos quantos desempenham a sua função com diligência, profissionalismo e dedicação, servindo bem os seus clientes e concidadãos. Não seria necessário, mas é justo, até para que os que não fazem isto, sintam que estas palavras não são mesmo para eles.

 

 


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