José Travaços santos
Baú da Memória
Senhora do Ó
Em 18 de Dezembro celebra-se Nossa Senhora sob a invocação de Senhora do Ó. É a celebração do anúncio, pelo Arcanjo São Gabriel à Virgem Maria, da conceição do Filho de Deus.
Sobre esta invocação, diz o padre Dr. Jacinto dos Reis no seu precioso livro “Invocações de Nossa Senhora em Portugal de Aquém e Além-Mar e seu Padroado”, editado em 1967 (e a merecer e a precisar de reedição), que a origem desta singular invocação está na recitação das 7 Antífonas que começam por Ó – Ó Sapientia, Ó Adonai, etc. – nas Vésperas do Ofício Divino, desde 17 a 23 de Dezembro. Esta festa já vem do Concílio de Toledo, realizado no século VII. Começou com o nome de Anunciação, depois com o nome de Expectação do parto de Nossa Senhora e, desde há muito, é conhecida por festa de Nossa Senhora do Ó…”.
Creio que esta invocação é muito própria de Portugal e da Espanha, parecendo-me que pelo menos não é usual noutros países ditos cristãos.
No nosso Mosteiro há três expressivas imagens da Senhora do Ó (ou da Expectação ou da Anunciação), embora apenas uma esteja bem visível, a que está no lanço leste do Claustro Real, num janelão da Casa do Capítulo, e que se reproduz nesta secção fotografada por António Luís Sequeira.
Às outras duas (e não haverá mais?) referir-me-ei algumas páginas adiante no Apontamento nº 188 sobre a História da Batalha.
Da imagem do Claustro Real, que tem ao lado o Arcanjo da Anunciação, possuo uma valiosa réplica esculpida, no calcário regional, pela notável escultora Adália Alberto, antiga e brilhante aluna do Mestre Alfredo Neto Ribeiro e da lamentavelmente extinta Escola de Canteiros da Batalha.
Porquê esta repetição da invocação no Mosteiro? Resultaria dalguma devoção especial dos Dominicanos? Que significado teria?
Lembro, o que será significativo, que a introdução destas três imagens foi feita já depois da doação do Mosteiro (em Março de 1388) pelo Rei D. João I à Ordem Dominicana. A obra teria começado no princípio desse ano que aparece gravado num dos vitrais laterais da Capela Mor, vitral este reproduzindo apenas uma memória que tanto poderá ser a do início da obra como a da doação àquela Ordem.
A imagem da Senhora, que está à entrada da Casa do Capítulo, é invulgar, duma extraordinária originalidade, pois tem um colar de seis mãos espalmadas, como se pode ver na fotografia. As mãos têm a função de esconjurar o mal e de defender o ser divino ainda no ventre da sua mãe terrena. À referida imagem falta-lhe a mão direita, levantada num gesto de defesa, que o tempo ou um acto de vandalismo teriam destruído. Mas sobre esta escultura há um mistério por desvendar, de que falarei no Apontamento 188.
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