Reguengo do Fetal: a palmeira que morreu de pé
Histórica. Iconográfica. Árvore de “antes quebrar do que torcer”. A palmeira derrubada pela tempestade “Ana” no domingo, 10, encheu de lágrimas muitos dos habitantes de Reguengo do Fetal. Os cem anos que levava a crescer no Largo da Praça da Fonte transformaram-na num símbolo da freguesia do concelho da Batalha.
As reações de quem se habituou a partilhar o dia-a-dia com a “Palmeira do Reguengo” foram imediatas. A construção de um monumento que recorde o ícone e a plantação de uma palmeira, carvalho ou oliveira, estão entre as sugestões dos populares. Há quem sugira uma recolha de fundos para a aquisição de nova palmeira e, neste meio tempo, o Largo da Praça da Fonte foi decorado com uma árvore de Natal.
Joaquim Calado fala da palmeira “com os olhos gotejando lágrimas de pesar e emoção”. “Só os que, como eu, nasceram ou viveram neste abençoado e privilegiado rincão, poderão sentir plenamente o que esta já saudosa árvore significava".
"Era o ponto de encontro, monumento, pelourinho, recordação, sentimento, símbolo e o farol. Era sob ela que se festejava o Natal e a Páscoa, celebravam os Santos Populares, esperavam as procissões, mas também os funerais, e se realizavam importantes e inesquecíveis eventos religiosos, culturais, recreativos e desportivos”, lembra Joaquim Calado.
“Por favor, não retirem donde está o tronco que sobrou dela e transformem-no no futuro “pelourinho” do Reguengo do Fetal. Era a melhor homenagem que prestaríamos à memória dos que a plantaram. Quebrou, mas não torceu. Foi na verdade até ao seu fim uma palmeira de antes quebrar que torcer", considera.
A Câmara da Batalha informou na quarta-feira, 13, que se encontra, “com o apoio da junta o Reguengo do Fetal, a avaliar a forma mais consistente para que a memória da palmeira, que se transformou ao longo dos anos num símbolo da freguesia, não seja esquecida pelas gerações vindouras”.
O largo foi, na quarta-feira, decorado com iluminação natalícia: “No local da secular palmeira, que sucumbiu à violenta tempestade, brilha agora uma estrela, por forma a minorar o sentimento generalizado de perda da população, face ao desaparecimento da árvore centenária e emblemática para os reguengueiros e também para os batalhenses”, explica a autarquia.


António Meneses é outro dos porta-voz da tristeza da população: “Foi debaixo dela que brinquei muitas vezes, depois da escola e da catequese, aos domingos e nas famosas festas que se faziam no verão”.
Valdemar António Varino, por seu lado, sugere a aquisição de “quatro palmeiras gémeas à Crivila, que seriam as justas sucessoras da palmeira monumental símbolo do Reguengo do Fetal” e a realização de “uma campanha” para o efeito, prontificando-se a comparticipar com 100 euros.
Jean Menitra, tem uma proposta semelhante à de Joaquim Calado: “Recuperar a madeira do tronco, que devia ser revalorizado, porque afinal era um monumento”.
A palmeira, ex-libris da povoação, com duas dezenas de metros de altura, resistiu aos efeitos do escaravelho que tem matado inúmeros exemplares da espécie. Foi tratada onze vezes contra os efeitos da praga, mas pelas 23 horas de domingo, 10, sucumbiu ao vendaval “Ana”. Era do tempo da chamada “Guerra da Charneca”, que culminou com a criação, em 1916, da freguesia de São Mamede, composta por lugares desanexados do Reguengo do Fetal.
No largo da Palmeira há anos que havia quem receasse a queda da árvore em cima das casas e pedisse a sua substituição. Parte de uma habitação foi mesmo danificada em resultado do derrube da árvore.
O presidente da junta de freguesia, Horácio Sousa, em declarações ao jornal Região de Leiria, reconheceu que “existiam receios de alguns moradores” e admite que o incidente seja aproveitado para requalificar o largo: “É conhecido como largo da palmeira, logo deverá voltar a receber uma palmeira, de menores dimensões”.
Esta parece ser também a opinião da maioria dos moradores, embora haja quem sugira a plantação de um carvalho ou oliveira. “Plantemos outra, diabos! Esta foi plantada pelos nossos avós. Porque não plantamos outra para os nossos netos?”, pergunta António Soares, adiantando: “Aquela foi plantada na geração do meu avô. Eu andei pendurado em suas braças tão baixa ela era. Plantemos outra é a vida recomeça”.
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