José Travaços Santos

Baú da memória

“A Região de Leiria e as Invasões Francesas”

Não sei quantas são já as obras, entre livros volumosos e opúsculos, para além de milhares de estudos vindos a lume em revistas e jornais, publicados pelo Professor Doutor Saul António Gomes, figura marcante e cimeira da intelectualidade portuguesa e um dos nossos maiores historiadores, com investigação ímpar sobre a nossa região e, no que nos toca mais directamente, sobre a Batalha. É o grande investigador da história do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, que vem desvendando em livros notáveis como “O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV”, “Vésperas Batalhinas” e “Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha” (4 volumes), entre outros.

Creio que não se encontrará quem o iguale neste trabalho sério, constante, árduo e tantas vezes inovador, desde há mais de três décadas, de que tem resultado para os pequenos contadores de histórias da grande História, como eu, um verdadeiro maná de informações e, mais do que informações, de lições preciosas.

Abro um parênteses para lembrar que o professor Saul Gomes não tem limitado a sua acção à publicação dos seus estudos e às aulas, que são de referência na Universidade de Coimbra, mas a estende como director científico de inúmeras revistas e de instituições como o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha e o Centro do Património da Estremadura (CEPAE), onde a sua intervenção tem sido sempre decisiva e de inigualável qualidade.

Editou, agora, “A Região de Leiria e as Invasões Francesas” (2ª Série de “Estremadura – espaços e memórias”, CEPAE), sobre as invasões entre 1807 e 1811 (1ª e 3ª), que contém o essencial sobre aquele tempo de terror vivido na maior parte do nosso País e muito particularmente na nossa região, e de terror tão grande que ainda na geração dos meus avós, quase cem anos depois, se falava dele como se fosse coisa do seu presente.

Além das evoluções dos dois exércitos em confronto, o francês e anglo-português, dos recontros às batalhas, dos actos vis da soldadesca e evidentemente de quem a comandava, e não só do inimigo mas também dos nossos aliados, do sofrimento das populações e dos seus actos heróicos, alguns com mais coragem do que cabeça como aconteceu na 1ª invasão naquela improvisada trincheira na entrada sul de Leiria, onde rapidamente tudo acabou no massacre dos nosso heróicos resistentes, o historiador dá-nos conta da vida da população naquele princípio do século XIX, de quantos habitavam a região e de quantos desapareceram na voragem daquela imensa tragédia.

Sobre a Batalha refere, sobretudo, o que se passou no nosso Mosteiro, desde os incêndios, um dos quais reduziu a escombros o claustro de D. João III, que se estendia pelo terreiro a leste do corpo principal, e outro junto à porta lateral sul da Igreja, a violação dos túmulos reais, a queima de documentos e doutros valores.

A obra é ilustrada por sugestivas gravuras da época dos acontecimentos ou desenhadas poucos anos depois.

 

 


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