Carlos Ferreira

Editorial

A rede social

 

Quando era miúdo tinha uma rede social. E a minha mãe estava mais informada do que o jornal. Em comum: sabiam as más notícias primeiro.

Saía de casa pela manhã, a pé, de mochila às costas, bata azul listada de branco, a caminho da Primária, a soprar branco o frio, com a tranquilidade infantil de viver o instante. Pelo caminho, passava pelo Ti Valentim, pela D. Alice e outros rostos que me permanecem na memória sem nome.

Os colegas, havia-os de todos os géneros, como a bicharada que arrimava pelas serras e matas – lá para os lados de Pernes, Arneiro das Milhariças, Vaqueiros ou Malhou. Quer dizer: penso que havia, mas a páginas tantas engana-me a escala do miúdo que vê tudo com olhos de aumentar.

Na escola, as regras eram simples: Estudar. Aprender. O professor tinha sempre razão. A D. Maria (não viveu tempo suficiente para chegar auxiliar educativa) também. E no recreio era o João quem tinha sempre razão – Soubesse eu e tinha-o acusado de bullying. Optei, não raras vezes, pelos 100 metros à Bolt. Ele, o João, era gordo (oopps!, obeso), atacava por esmagamento, aproveitando a distração da vitima.

No intervalo, no regresso a casa, no largo da terra – onde calhava – fazíamos o que as crianças de seis ou sete anos faziam: jogávamos à bola, à apanhada, aos índios e cowboys, ao pião (feitos nas oficinas de torneados da terra). E a fisga, que viu quase tudo menos pardal na mira?

E as asneiras? Uma bola que partia um vidro, uma bulha mais séria, a má educação com um adulto. Um recado esquecido...

Mas a rede social funcionava. Quando chegava a casa, a minha mãe já sabia. A vigilância de vizinhos garantia-o. E o pior castigo era ficar fechado em casa.

                                                                                                                                            


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