José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (232)

Recolhas e estudos sobre a nossa Região Etnográfica (3)

 

Estremas de Portugal

 

Em terra

basta um breve olhar

deste vale àquele monte,

mas se me viro para o Mar

é infinito o horizonte,

impossível de abarcar.

 

As águas dos oceanos,

ai, quem as dera passar!

Saber a estrema de Portugal,

lá, onde se acaba o Mar.

 

 

Continuo a transcrever o estudo feito, em 1917, pelo Doutor Manuel Heleno, de Monte Real, aluno então do Professor Doutor José Leite de Vasconcelos e que este incluiu na sua monumental “Etnografia Portuguesa”:

(…)

Recordo que se trata dos usos e costumes em Monte Real, do concelho de Leiria, nos inícios do século XX, em que se pode englobar toda a vasta região alto-estremrnha tendo em conta que de Pombal às Caldas da Rainha, pelo menos, os costumes são, com pequenas excepções, praticamente os mesmos.

“Para as costas têm, quando remediados, uma capa preta, mas que só usam em ocasiões solenes.

“O trajo da semana é muito mais simples do que o que acabamos de descrever. Em geral andam em mangas de camisa, isto é, sem casaco, e apenas com umas calças velhas arregaçadas, ou umas ceroulas de ganga, ou de pano cru, curtas e largas. Sempre descalços: trazem no Inverno um barrete na cabeça, e no Verão às vezes um chapéu velho.

O vestuário das mulheres é constituído, em Monte Real, por blusas ou matinés com mangas compridas e de abotoar ao lado; por saias de chita ou estamenha, franzidas junto a um cós largo e com barras de ganga de assento preto e olhos amarelos, frequentemente alteadas com um cordel tecido com algodão de várias cores e com maçanetas nas extremidades; por aventais de riscado escuro; por canos para as pernas, usados mesmo no rigor do Verão. Geralmente andam descalças e só nas ocasiões solenes deixam ver uns sapatos pretos e umas meias pretas ou da cor do vinho. Na cabeça nota-se-lhes quase sempre um lenço encarnado, atado de modo a colocar-se as suas pontas num chapéu preto, de forma arredondada, como no Minho (?), enfeitado com um penacho preto ou penas de vaias cores, fixas numa conta dourada. Nas abas do chapéu, encontra-se quase sempre um lenço branco, muito bem dobrado. Para as costas têm, em harmonia com as posses, saias de estamenha, de castorinha ou baeta, e também já xailes. Nas orelhas luzem botões de ouro; ao pescoço uma medalha, e nos dedos anéis de prata ou de chumbo. Aos Domingos, quando as posses o permitem, trazem cordões aparelhados com libras, medalhas, cruzes e, às vezes, corações, que noutro tempo teriam servido de amuleto e cuja significação se perdeu.

As crianças até aos três anos usam umas batas, e andam em “gadelhe” (em cabelo). Ao pescoço trazem, por vezes, bentos e amuletos. Depois, aos cinco anos, passam a usar um barrete na cabeça, umas calças abertas, mas já com bolsos, e andam vulgarmente em mangas de camisa, a não ser aos Domingos, em que trazem umas blusas de cor ou camisolas azuladas, ou verdes, andando descalças até mesmo nesses dias. Depois desta idade, o trajo das crianças começa a assemelhar-se ao dos adultos”.

O trajo em Monte Real, no concelho de Leiria, a mesma região etnográfica do concelho da Batalha, em nada difere do do nosso concelho, em nada ou em pouco, tendo em conta o maior ou menor estado de pobreza dos seus naturais, e recordo que em 1917 estava-se nos finais do uso dos trajos distintivos. Com o devido respeito, assinale-se o trajo que vestiam os pastorinhos de Fátima, cuja imagem tem sido amplamente divulgada.

Os grupos folclóricos podem enveredar por três caminhos, conforme aquilo que quiserem representar: trajos só domingueiros, trajos domingueiros e de trabalhos, trajos só de trabalhos. Aliás quando se ia para a romaria o trajo, evidentemente, era o domingueiro.

Mas as distinções regionais não estavam apenas no trajo em si, mas na maneira de o usar. Alguns aspectos distintivos, da nossa região etnográfica, podem verificar-se no uso do carapuço, com a borla caindo sobre a nuca, no do xaile dobrado em rectângulo e não em triângulo, com a cinta do homem toda enrolada no trabalho agrícola e com as duas pontas caindo atrás, à direita e à esquerda, nos dias festivos, entre outros.

O mundo da etnografia é vasto e aliciante e temos hoje muitas fontes onde podemos ir beber imensos conhecimentos e buscar respostas para as nossas dúvidas.

A imagem a ilustrar este apontamento reproduz obras do grande pintor Lino António, datadas de 1931. Embora em termos artísticos, não deixam de revelar inteiramente como eram os trajos e a forma de os usar pela gente da nossa região etnográfica.

 

“Selecções” completam cem anos

 

As Selecções do Reader’s Digest, presentemente publicadas em 27 edições e em 11 línguas, festejam este ano o seu centenário. De leitura extremamente agradável e com conteúdos não só aliciantes como profundamente formativos, têm dado um contributo inequívoco à elevação moral e intelectual de milhões de pessoas espalhadas pelo Mundo. Incluo-me entre os seus leitores de há dezenas de anos e é com gratidão e admiração que saúdo, neste significativo aniversário, os seus editores e directores, desejando que cada vez mais pessoas se tornem seus leitores.

 

Num mundo e num tempo como os nossos

 

Vivemos tempos apocalípticos. Alterações climáticas, secas profundas, incêndios, crimes nefandos, epidemias, guerras, tudo se conjuga para criar um ambiente pesado de medo e já também de aflição e de perda de esperança.

Em muitos dos males que nos afectam agora está a mão humana e os maiores culpados escapam impunes.

Que podemos fazer?

 


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