José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (213)

A propósito do Casal do Azemel

 

Capelas Imperfeitas

 

Capelas Imperfeitas

mas sem a humana imperfeição

das coisas mal feitas

antes da nossa imperfeita visão

que não nos deixa desvendar

como está perfeita

a obra por acabar.

 

 

Há no aro da Batalha um número significativo de povoações que buscaram o seu nome no primeiro habitante a quem o Rei ou o Convento Dominicano aprazaram ou aforaram os lugares, até ali desertos, quase todos a partir da construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória.

Algumas não designavam o nome do seu “fundador” mas a sua actividade como é o caso deste Casal do Azemel, que o mesmo é dizer do almocreve, ali paredes meias com a Jardoeira.

Excluindo a Golpilheira e a Cividade, à qual o ilustre Historiador, Prof. Doutor Saul António Gomes, no número de Novembro/Dezembro do ano findo, do “Jornal da Golpilheira” dedicou um precioso estudo, e a praticamente desaparecida Canoeira, todas as restantes povoações surgiram a partir de finais do século XIV, várias já no século XV ou XVI.

Casais dos Ledos dum tal João Eanes Ledo, Casal do Relvas duma família Relvas, O-dos-Adrões da família Adrão, O-dos-Palmeiros da família Palmeiro, A-das-Brancas a que deram o nome, muito provavelmente, a viúva de Mestre Conrate Branca Eanes e a filha do mesmo nome próprio, Casal do Quinta da família Quinta, Casal Mil Homens, Faniqueira duma família Faniqueiro, este apelido já era registado no princípio do século XV na nossa Vila Facaia (há pelo menos mais duas Vila Facaias, que também evocam o seu primeiro morador, uma no norte do nosso distrito e outra no concelho de Torres Vedras), são algumas das povoações que lembram o nome do seu “fundador”.

A designar a actividade do seu primeiro habitante, como no caso do Casal do Azemel, Forneiros evoca quem trabalhava em fornos, Casal do Benzedor que nos indica que aí residiu um curandeiro, entre outros. E já agora recordo que Centas, nas Brancas, está relacionada com as assentas do sal, remniscência das antigas salinas no local.

Os azeméis ou almocreves, também designados recoveiros, sendo ao dois primeiros vocábulos de origem árabe, tiveram uma importante função nos séculos passados e até, inclusivamente, aos primeiros anos do século XX. Eram eles que abasteciam as nossas vilas e aldeias dos produtos essenciais, sobretudo as terras que estavam em sítios recônditos, chegando algumas a despovoar-se quando deixavam de ter o serviço dos azeméis, classe profissional que poderemos dizer que foi antepassada dos modernos camionistas.

Duma maneira geral transportavam azeite, sal, trigo, peixe, vinho e inclusivamente, entre o Algarve e o Alentejo, carne de baleia (?!), conforme nos informa no seu estudo “A Acção dos Almocreves no desenvolvimento das Comunicações Inter-Regionais Portuguesas nos fins da Idade Média” o Prof. Doutor Humberto Baquero Moreno: “Uma carta de D. Afonso IV, de 1 de Setembro de 1352 enviada a esse concelho (Tavira), revela-nos que por essa altura morriam baleias em Porto Novo. Tal facto motivava a vinda de almocreves a Tavira, os quais em troca de cereais carregavam a carne de baleia e transportavam-na para fora do Algarve”.

Trata-se apenas dum facto curioso mas que tem interesse não só para o estudo da actividade dos almocreves mas para os da economia medieval, alguns hábitos alimentares, a presença de baleias na costa algarvia, entre outros.

A fotografia que reproduzo, do largo em frente ao nosso Mosteiro, que haveria de chamar-se largo de D. João I, mostra-nos o que parece ser uma récua de bestas de carga de um ou mais almocreves. A fotografia é já dos princípios do século XX, vendo-se ao fundo a torre da nossa igreja matriz, torre por aquela altura mandada construir, em substituição do arruinado campanário, pelo pároco Dr. Joaquim Coelho Pereira. Em primeiro plano o quiosque que foi do médico Dr. Afonso Dias Moreira Padrão, um dos primeiros estabelecimentos, senão o primeiro, onde se vendiam publicações destinadas aos turistas, que então ainda eram poucos, entre elas o curioso guia sobre o Mosteiro da autoria daquele saudoso clínico. Aliás tanto o Dr. Dias Padrão como o padre Dr. Coelho Pereira foram pessoas que prestaram assinalados serviços aos batalhenses, ambos nos finais do século XIX e princípios do século XX.

 

Porque teimam os políticos na regionalização?

 

Alguns políticos continuam a teimar na regionalização sem novo referendo, simplesmente imposta.

E já têm, inclusivamente, o mapa do país repartido numas tantas regiões ao arrepio da opinião das populações. Isto é que é espírito democrático!

A nossa região histórica, nossa da gente da Alta Estremadura, já teve no século XX duas experiências lamentáveis, uma a da inclusão da parte norte da Estremadura numa então inventada Beira Litoral, isto nos anos 30, e a outra a da destruição da Região de Turismo Rota do Sol, separando-se em dois pedaços contra-natura, a Nazaré e Alcobaça da Batalha, de Leiria, de Fátima e de Ourém.

Embora muito nas sombras, só ocasionalmente se dando pelo obscuro projecto, os políticos, nem todos evidentemente, preparam-se para o festim de mais uns tantos governos regionais, mais uns tantos parlamentares regionais e não sei quantos serviços e repartições, convenientes para instalar a clientela política.

Uma capital na região, outra em Lisboa e outra em Bruxelas, são capitais (nos dois sentidos) de mais para um País tão pequeno.

Valorizar o estatuto dos municípios para eles transferindo-se determinados poderes, isso sim. Dar voz aos munícipes, isso sim. Ouvir frequentemente o povo através de referendos locais e nacionais, mas acatando rigorosamente os resultados das consultas, isso sim.

Caso contrário, se não é claramente ditatorial é, pelo menos, muito pouco democrático o modelo que se tem seguido e que, parece, é defendido com unhas e dentes por parte da classe política.

Fotografia publicada: Trata-se de um postal da colecção “Batalha Antiga” editada pela nossa Câmara Municipal.

 


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