Carlos Ferreira

Diretor

Peregrinar para ficar mais perto

Quem peregrina, por mais que caminhe, mais fica próximo de si. Quando o Leitor ler esta frase, e se a minha escassa arte de escrita o empurrar para as palavras seguintes, saberá que ando, pela sexta vez, a palmilhar os caminhos de Santiago de Compostela – o Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro, que liga Braga à catedral galega, com início pela geira romana. Há muitas explicações para fazer o Caminho. De Santiago, de Fátima, ou qualquer trilho que a vida nos destine. Mas, estou em crer, a espetacularidade está na desnecessidade de explicar o que nos leva a partir.

É apenas uma vontade ir, de encontrar o inesperado, de saber que há alguém e alguma coisa para além do dia a dia, da rotina que nos consome a razão central de existir: viver. É prosseguir as ilusões dos marinheiros que foram mar dentro ou entoar no peito as canções do homem que só estava bem onde não estava. É fé, é turismo, é natureza, é cultura, é património, é gastronomia. É encontrar em cada albergue peregrinos do mundo e os seus diários contados à volta de uma mesa ou refeição improvisadas. É tudo. - É o mundo e as gentes refletidos num trilho marcado com setas amarelas (ou azuis, ou verdes). É o caminho das estrelas. É o caminho da oca.

Por isto, e sobretudo pelo que as palavras não explicam, parto há seis anos consecutivos. Eu, com uma mochila e um cajado. À procura de poder partir de novo. A Catedral de Santiago, diz- -se, não é o destino, um ponto de chegada; antes é um ponto de partida. É por isso que caminho com vontade de chegar. Porque isso significa partir de novo em breve. Boa leitura. Bom Caminho!


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