Joana Magalhães

Pestanas que falam

Perder sem ganhar depois

Quando somos pequenos somos invencíveis. Testamos os limites e a vida é tomada como certa. Não há desafios ou obstáculos intransponíveis. Somos super-heróis nas nossas histórias de legos e princesas com poderes especiais nos contos de fadas. A vida é o momento. Nem o antes, nem o depois.

Depois crescemos. Crescemos e perdemos alguém. Uma pessoa que amamos ou alguém querido por um dos nossos. A lei da vida manda que devemos partir por ordem de idades, a começar nos mais velhos e a terminar nos mais novos - quando já estiverem, obviamente, no patamar dos mais velhos. Isto porque na vida precisamos de tempo. Só o tempo nos pode explicar o que significa viver, estar vivo e ter vida. E é isso que os mais velhos ensinam aos mais novos, é o que deixam. O seu legado. É por isso que os seus olhares são enrugados, mas sábios.

Tudo o que é bom e se vai embora, dói. Raramente o que se ganha é melhor do que aquilo que partiu. Principalmente porque há memórias. E as memórias lembram-nos todos os dias do bom que era e que já não vai ser mais. É nessas alturas que, sem sermos dos mais velhos, pensamos no tempo. Em como vivemos o tempo. Embrenhados na rotina: na necessidade de ir ao ginásio, na obrigação de estar no trabalho, tomar conta da casa. Tudo isso nos leva o tempo e nos deixa uma lista de familiares que queríamos visitar mais vezes, copos que queríamos pagar a amigos, escapadinhas que queríamos fazer com os namorados. E tentamos mudar. Ligamos aos familiares e dizemos que vamos "passar lá em casa", juntamos os amigos em volta da mesa e marcamos aquele hotel especial para a nossa cara-metade. Isto da mesma forma que percebemos que o tempo que passou já não volta. Ficou para trás. Já não podemos ir lá e escolher o jantar com os amigos em vez da série no sofá.

Se há coisa que não podemos prever na vida é o fim dela. Sabemos que chega, só não sabemos quando. E numas alturas mais do que noutras, talvez por a vivermos mais de perto, percebemos que tudo é efémero, tanto quanto tudo é relativo e tão importante ao mesmo tempo.

 


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