José Travaços Santos
Apontamentos sobre a História da Batalha (225)
Pequeno guia para uma visita ao Mosteiro (III)
O Mosteiro alberga em si vários monumentos e um deles é a Capela do Fundador, obra do mestre Huguet, cuja origem se supõe ser catalã. É neste espaço duplamente sagrado que a nossa visita, este mês, vai começar. Panteão que, esperamos, seja intocável e não venha a ser senão sepultura da Ínclita Geração e dos descendentes próximos, reúne, pode dizer-se, os restos mortais das maiores figuras portuguesas do século XV.
Capela do Fundador, assim foi designada por nela estar o túmulo do rei fundador do Mosteiro, soberano que pode considerar-se também o segundo fundador da Pátria Portuguesa porque sem a sua vitória, nos campos de S. Jorge em 1385, Portugal teria soçobrado definitivamente. Com D. João I foi sepultada a sua mulher, D. Filipa de Lencastre, figura duma rara elevação que muito contribuiu para aquela extraordinária época e para muitos dos acontecimentos que a caracterizaram.
Na parede a Sul da capela estão as sepulturas de quatro filhos do régio casal, os Infantes D. Fernando, que morreu durante o terrível cativeiro na cidade marroquina de Fez, D. João que veio a casar com uma sobrinha, D. Isabel, filha do Conde de Barcelos e 1º Duque de Bragança, D. Henrique, a alma dos Descobrimentos, e D. Pedro, que foi regente do Reino, e de sua mulher D. Isabel de Urgel.
Na parede de oeste foram em 1901 tumulados o Rei D. Afonso V e sua mulher D. Isabel de Avis ou de Coimbra, filha do Infante D. Pedro, o filho D. João II, um dos mais notáveis soberanos portugueses e um dos maiores do seu tempo, e o filho deste, o Príncipe D. Afonso que morreu, em plena juventude, ao cair dum cavalo.
Em cada frontal das arcas tumulares estão as armas que distinguem os reis, príncipes e infantes ali sepultados. Sobre as armas de cada um já aqui fiz, há anos, alguns reparos pois há pequenos enganos nos símbolos inscritos nos pendentes do lambel ou banco de pinchar. Nos do Infante D. Henrique deviam estar três flores de lis e não o retalho, que é a diferença do Infante D. João, nos do Infante D. Pedro deviam estar três arminhos e não dois, e no escudo da Rainha D. Isabel, de Coimbra, mulher de D. Afonso V, na metade com as suas armas de família deviam estar os três arminhos do escudo do seu pai e não o retalho que distingue o seu tio Infante D. João.
Isto porém são assuntos que transcendem estes apontamentos e me transcendem completamente.
A Capela do Fundador teve como cúpula uma pirâmide que abateu com o terramoto de 1755. Na gravura que reproduzo, desenho preciso de James Murphy, arquitecto irlandês que por cá andou nos finais do século XVIII e a quem já me referi, estando alguns meses hospedado no nosso convento dominicano aproveitou o tempo para registar o aspecto do monumento como estão estava e para imaginar, conforme as indicações dos frades que quarenta anos antes assistiram ao tremendo sismo, como seria então o remate da capela.
Voltando à igreja, sugiro aos leitores que olhem com atenção as nervuras das abóbadas que estão lá no alto quase escondidas da nossa visão. Nervuras, neste caso, são “as molduras salientes que separam os panos duma abóbada”. Pelas nervuras podemos distinguir, na igreja, as que são do tempo de Afonso Domingues e as do tempo de Huguet. De Afonso Domingues são as redondas, de Huguet são as esquinadas. Assim, podemos dizer que as duas naves laterais e as quatro capelas absidais são do tempo de Afonso Domingues, a nave central, o transepto e a capela mor do tempo de Huguet. A sacristia e os lanços leste e sul do claustro real são do tempo de Afonso Domingues, a abóbada da Casa do Capítulo e os lanços oeste e norte do claustro, do tempo de Huguet.
Na igreja a maior parte dos capiteis, remates das colunas, ostentam esculturas tão primorosamente feitas como as que estão em baixo ao alcance dos nossos olhos. Aqui já referi os anjos músicos e o homem verde da quinta coluna à esquerda de quem entra no templo, quinta coluna e não quarta como por lapso disse no número anterior, mas evidentemente há mais e muito curiosas e expressivas noutros capiteis.
Entretanto, caminhando pelas naves, podemos ir descortinando as siglas que assinalavam o trabalho dos canteiros, entre elas a cruz gamada (que tem as extremidades de ângulo recto como o gama grego) de que se apropriou, indevidamente, Hitler o tirano de má memória que deixou um rasto de sangue em grande parte da Europa e quase aniquilou o povo judeu. Evidentemente que este símbolo, gravado nas pedras com que se construíram algumas zonas do Mosteiro, símbolo milenar, nada tem a ver com o nefando tirano.
Os vitrais, de que a igreja e a Capela do Fundador são os maiores depositários, têm de nos merecer um olhar demorado e atento. São frágeis obras de arte pela natureza da matéria, o vidro, de que são feitos, mas de uma beleza espantosa que proporciona àqueles espaços algo de etéreo. Tempestades e tremores de terra e, também, desleixos na sua conservação, fizeram desaparecer a quase totalidade dos vitrais originais, felizmente substituídos por outros que, parece, os reproduzem na íntegra. Sobre a destruição causada pelo terramoto de 1755 há um impressionante relato do que se passou então, a que oportunamente me referirei. Num deles na capela mor, nas janelas viradas a sul, está gravado o ano de 1388, talvez recordando o ano da doação do Mosteiro à Ordem Dominicana ou o ano do início da obra.
Continuarei no próximo número, se Deus quiser.
Criminalidade a aumentar e a agravar-se
Há um aumento significativo da criminalidade violenta no nosso País, revestindo-se cada vez mais duma brutalidade e duma crueldade que não seriam de imaginar no nosso tempo. Afinal, ao progresso material está a corresponder um retrocesso civilizacional.
É preciso e urgente que os governos tomem providências imediatas e capazes de fazer frente a esta onda selvagem que atemoriza as populações e que, aproveitando o período eleitoral, os partidos as indiquem claramente.
E volto a perguntar que influência terão as cenas, duma selvajaria extrema, que as televisões transmitem diariamente e a todas as horas, e que as crianças têm, por mais que se diga o contrário, acesso.
Um gravíssimo problema a que os políticos não podem fugir.
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