Joana Magalhães
Pestanas que falam
Partir e nunca sair de casa
O hall de entrada preenche-se com sacos. Sacos de roupa. Sacos de louça. Sacos. Estou (novamente) de partida.
Enquanto crescemos, ouvimos repetidamente que é importante “embarcar” em aventuras fora de casa quando somos jovens. Crescer, ganhar maturidade, independência, tudo isso é importante. Desenraizar. Mas, na realidade, desenraizar enraíza-nos ainda mais. É a velha história do “só sabes o que tens quando o perdes”.
Há uma coisa que se tornou indispensável para mim, nesta rotina semanal do “cá e lá” durante a experiência universitária, e que se prolongará pela vida profissional que vou começar brevemente: sopa. Ao longo dos últimos três anos a minha mala de fim-de-semana foi ficando cada vez mais pequena, a roupa já não voltava sempre para ser lavada, bem como a dose de comida, que foi diminuindo. Mas algo que nunca dispenso é a tupperware com a dose semanal de sopa. Feita pela mãe ou pelo pai, sopa vai sempre comigo.
Mas porquê? Porque é que a sopa dos meus pais é sempre melhor do que a minha? Na verdade, a resposta é muito simples. É a sensação de estar em casa. Porque todos os dias em minha casa, em Leiria, come-se sopa ao jantar e, por isso, fora de casa, comer sopa ao jantar é estar em casa. Mas é importante que a sopa saiba ao mesmo, se não perde-se o efeito. É como o cabrito assado com batatas no forno da avó, que faz lembrar o almoço de Natal e as reuniões familiares.
Tão importante como a sopa é o cheiro da roupa e do novo quarto. Amaciador de lavanda para a roupa e ambientadores de lavanda para o quarto – kit para ter o cheiro de casa, fora dela.


No meio de tudo isto, o essencial é entender que o importante não é o que se come nem o cheiro da roupa que se veste, mas sim as memórias que nos levam até casa, ao nosso lar.
Partir e nunca sair de casa. É ter sempre um lugar onde se volta, com as novidades na ponta da língua que se atropelam à saída durante o jantar de sexta-feira.
É importante sair, mas mais importante ainda é saber para onde se voltar quando a missão lá fora está cumprida ou quando é preciso o conforto do lar.
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