Carlos Ferreira
Editorial
As palavras dos outros
O tempo que passa leva-nos em busca de novas palavras para dizermos de novo o que já foi dito, ano após ano, alinhando ideias impossíveis de descrever, que a arte (pouca) não nos serve para tanto. Há sempre alguém que diz melhor. Um poeta. Obrigado aos Leitores, Anunciantes e Colaboradores que nos acompanharam este ano. A todos desejo um Santo Natal e um Ano Novo repleto de saúde.
Quando um homem quiser
Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em dezembro
mas em maio pode ser
Natal é em setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos
em “As palavras das cantigas”
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