Francisco Oliveira Simões (Historiador)

Crónicas do passado

Os relatos de Cavalaria

Foram descobertos recentemente estes relatos de dois cavaleiros, datados de meados do século XIII, que vos passarei a descrever e adaptar a uma linguagem e escrita mais factual. Julgo que estes documentos sejam de extrema importância para o estudo da História Medieval de Portugal.

Sabe-se que chegaram a combater na reconquista cristã da Andaluzia, ao lado do Mestre de Santiago D. Paio Peres Correia.

O pouco que nos chegou, contado pelos escritos do jovem escudeiro Raimundo Sanches, fala-nos das batalhas e quotidiano de dois cavaleiros de alta nobreza e posses avultadas. Ambos viviam no Minho. O talento de Raimundo para a escrita é louvável, e denota uma educação exemplar. Por estas razões suponho que seja membro da nobreza.

D. Mendo Gonçalves de Vizela era um cavaleiro muito leal à coroa portuguesa, ou não. Defendia sobretudo os interesses que lhe eram mais favoráveis à sua bolsa, mas sempre com um extremo amor ao seu Reino, o qual muitas vezes já nem sabia qual era. Ficou célebre com o seu ilustre cognome, “o Porco Assado”, devido ao seu tremendo gosto pela carne porcina.

D. Pero Martins de Macedo tinha um enorme sentido de responsabilidade. Sereno e cauteloso, menos com as mulheres, pois o seu coração batia por todas elas. Todos os reinos peninsulares conheciam o seu nome, pois as lavadeiras coscuvilhavam muito. O Papa Inocêncio IV dizia sobre ele palavras de estima e de alta consideração: “Excomungo esse herege”.

Espero que esta transcrição seja elucidativa tanto para leigos como para historiadores.

Para lá de tudo o que conhecemos, envolto nas brumas de nevoeiro, vivem cavaleiros de armadura e elmo, numa época a que muitos chamam das trevas. Entre estes intrépidos seres elevam-se dois místicos e corajosos guerreiros, D. Mendo Gonçalves de Vizela e D. Pero Martins de Macedo. Aventureiros lutavam na reconquista cristã. Aqui vos delego um dos seus destemidos e eloquentes diálogos, de espada na bainha e lança na mão, sobre a sua montada corpulenta.

D. Mendo - Tendes algo combinado para amanhã à tarde, meu bom e velho D. Pero?

D. Pero - Deixai-me consultar a minha agenda. Meu escudeiro Raimundo, o que me aguarda amanhã à tarde?

Raimundo - Vossa Senhoria, tende compromissos pela manhã com aquela manceba, a Maria Fogosa e...

D. Pero - Não pedi toda a minha agenda, Raimundo. Desta vez perdoo a impertinência.

Raimundo - Desculpai-me Vossa Senhoria tal inconfidência da minha parte. Hum... À tarde tendes uma refrega com uns mouros desleais. Aqui no pergaminho acrescenta que ireis atacar muçulmanos ao calhas até saciar o Vosso ardor combativo.

D. Mendo – Ah! Como gosto de chacinar só pelo simples gosto de cumprir o meu dever. Já agora preciso de terras.

D. Pero - Como vedes não posso combinar nada convosco. Existem assuntos que requerem uma atenção imediata. Mas dizei-me o que queríeis combinar com este Vosso ilustre amigo.

D. Mendo - Era uma cervejinha ali na Taberna da Moura Encantada. Ando de olho numa dama mui formosa.

D. Pero - Já agora, como se chama essa Vossa donzela encantada?

D. Mendo - Chama-se D. Châmoa.

D. Pero - Mas quem é que a chamou?

D. Mendo - É o nome dela, Châmoa.

D. Pero - Estais a enervar-me.

D. Mendo – Calma, Pero, é uma discussão sem sentido.

Raimundo - Confere na agenda, arranjar uma discussão com o amigo para andar à pancada sem razão aparente, para não chamar a atenção da sua relação com a filha de D. Mendo.

D. Mendo - Andas com a minha filha, seu sem vergonha? Vou já chamá-la para comprovar esta história.

D. Pero - De acordo. Ei chama aí a Eixamea, Raimundo.

Depois desta conversa elevada e puramente sagaz, os nossos heróis prosseguem a sua caminhada rumo à Guerra Santa, sob o pôr-do-sol.


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