João Pedro Matos

Tesouros da Música Portuguesa

Os dias de glória dos Madredeus (2ª parte)

(Continuação da edição anterior) Entre março e maio de 1994 vamos encontrar os Madredeus em Londres a gravarem material original que converter-se-á em dois álbuns distintos. O primeiro deles, O Espírito da Paz, publicado nesse mesmo ano, serviu para consolidar o estatuto internacional da banda porquanto ascendeu ao primeiro lugar da tabela de vendas em Espanha. E rapidamente tornou-se no seu álbum mais conhecido, a ultrapassar a fasquia de meio milhão de exemplares vendidos. O que obrigou o grupo a voltar à estrada, agora para encetar uma gigantesca digressão mundial que durou cerca de um ano e meio.

Convém recordar que um dos concertos mais emblemáticos de promoção de O Espírito da Paz foi mesmo no Mosteiro da Batalha. E, na nossa modesta opinião, O Espírito da Paz é ele próprio um tesouro da música portuguesa onde cintilam jóias como Os Senhores da Guerra, Pregão, Ao Longe o Mar, e Vem, a canção mais ouvida do disco.

No ano seguinte, Rodrigo Leão anuncia a sua saída para dedicar-se inteiramente à sua carreira a solo. É substituído nos teclados por o antigo elemento dos Heróis do Mar, Carlos Maria Trindade.

Depois, o segundo álbum gravado em Londres no ano anterior, e que se chamará Ainda, será utilizado pelo realizador alemão Wim Wenders como banda sonora do filme Lisbon Story. A música presente em Ainda tem notórias influências do fado, e isso comprova-se em faixas tais como Alfama, Guitarra e, principalmente, no nostálgico Céu da Mouraria.

A propósito de Alfama, esta música será lançada no formato de single em 1997, remisturada por Jah Wobble, antigo músico dos PIL e líder dos Invaders of the Heart. Esse single, intitulado Ambiente Pacífico, inclui também o maravilhoso Pregão onde pontificam as vozes de Teresa Salgueiro e de Francisco Ribeiro, numa remistura que tanto evoca os cantos da Beira Baixa como os do Norte de África.

Entretanto, o acordeonista Gabriel Gomes e o violoncelista Francisco Ribeiro tinham deixado o grupo e, por seu turno, havia entrado a guitarra baixo acústica de Fernando Júdice, que em tempos pertencera ao Trovante. É com esta nova formação que os Madredeus lançam O Paraíso, disco onde se destacam dois temas: A Andorinha da Primavera e Haja o que Houver.

Porém, foi preciso esperar por 2001 para ver aparecer outro grande disco dos Madredeus: trata-se de Movimento que é, sem sombra de dúvida, um dos seus trabalhos mais conseguidos, tanto a nível dos arranjos instrumentais, em que as guitarras adquirem um som encantatório, como a nível vocal, porque a voz de Teresa Salgueiro nesse registo aparece melhor do que nunca. Escute-se com atenção o seu desempenho nos temas Ecos na Catedral e em A Lira – Solidão No Oceano.

Movimento foi recebido efusivamente um pouco por toda a parte: na Grécia, o disco entrou para o quarto lugar da tabela de vendas e, no México, havia uma autêntica euforia em redor da música dos Madredeus: os seus álbuns eram elogiados pela imprensa, os concertos contavam com lotação esgotada e o grupo deu um concerto na Cidade do México, na praça histórica de Zocalo, em que assistiram cerca de cinquenta mil pessoas. Não é de estranhar, portanto, que em 2002 o grupo grave Euforia, com acompanhamento da Orquestra Sinfónica da Rádio Flamenga; mas em 2007 todos os elementos dos Madredeus abandonaram o projeto, à exceção de Pedro Ayres de Magalhães e Carlos Maria Trindade.

Para a História, deverá fixar-se pelo menos quatro álbuns que pertencem à sua discografia: Os Dias da Madredeus (1987), Existir (1990), O Espírito da Paz (1994) e Movimento (2001).


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