Joana Magalhães

Pestanas que Falam

Os 45% que deram a vitória aos mesmos

A primeira vez que trabalhei numa noite de eleições legislativas foi no domingo, dia 6. Perguntavam-me, enquanto jornalista, porque é que eu achava que a abstenção continuava alta, e a subir. “Jornalista sou há pouco tempo, mas enquanto jovem digo que os políticos não chegam até nós, não falam a nossa língua”.

Entre amigos, expressões como “para que é que vou perder tempo a votar?”, “não vai mudar nada”, são uma constante. Na escola não se fala de política e quem nada sabe sobre o assunto não percebe o que se ouve na televisão.

45% de portugueses deixaram que o resto do país decidisse por eles. 45% de portugueses que acharam que não valia a pena ou que nada sabem sobre o tema. Os políticos discursam para os políticos, às vezes como nós, jornalistas, que escrevemos para os jornalistas e nos esquecemos das pessoas.

Num mundo em que o Parlamento ganha um deputado de extrema-direita, é urgente que os portugueses percebam que o seu voto faz a diferença. Tal como os mais de 66 mil votos que elegeram André Ventura e os mais de 55 mil que elegeram Joacine Moreira. Minorias opostas que ganham força com uma pequena percentagem de votos.

45% são 4.250.274 portugueses que podiam ter mudado o panorama político. Para o bem e para o mal, isso é certo. Mas é matemática fácil, não é? Desta vez, estes números permitiram apenas que tudo se mantivesse igual, ou ligeiramente diferente.

Se a democracia é o caminho, mas 4.250.174 portugueses não querem participar nela, então qual é afinal o caminho?


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