João Pedro Matos

Tesouros da Música Portuguesa

Orquestra de jazz, a primeira em Portugal

Este mês recordamos a orquestra de jazz de Jorge Costa Pinto, a primeira big band criada em Portugal. Mas, o que é uma big band e como surgiram? Para responder a estas perguntas, vamos recorrer ao livro Classic Jazz, de Floyd Levin, cujo exemplar que temos na nossa posse foi-nos gentilmente oferecido por José Duarte.

As big bands não são mais que orquestras de formação variável, normalmente com quinze a vinte músicos (quase sempre de metais e secção rítmica), e que interpretam o jazz dito tradicional ou clássico; surgiram nos Estados Unidos e tiveram o seu apogeu nas décadas de trinta e quarenta do século passado, na chamada era do swing.

Nessa época, o jazz tinha um cariz popular e representava setenta por cento da totalidade dos discos vendidos. Segundo Floyd Levin, devem destacar-se a Kid Ory’s Creole Jazz Band (que foi patrocinada por Orson Welles), a Duke Ellington Orchestra, a King Oliver’s Creole Jazz Band (a qual chegou a contar com a participação de Louis Armstrong), Charlie Barnet and His Orchestra, The Yerba Buena Jazz Band, The Stan Kenton Orchestra, entre muitas outras.

Em Portugal, Jorge Costa Pinto e Sua Orquestra foi pioneira, não obstante a primeira a ser gravada em disco ter sido a Orquestra Girassol, liderada por Zé Eduardo. O que aconteceu já em 1978. Mas ainda estávamos na década de sessenta do século passado, mais precisamente em 1963, quando na sequência de uma proposta de Jorge Costa Pinto feita à RTP, a sua orquestra passou a atuar regularmente na televisão estatal. Contava com um conjunto de metais notável, incluindo trombones, saxofones e trompetes e secção rítmica. Depois desta participação na Rádio Televisão Portuguesa, a orquestra dissolveu-se, para reaparecer anos depois (muito fugazmente) no programa de televisão Quinta do Dois, e que nessa altura contou com a participação de músicos como Mário Laginha, Edgar Caramelo ou Carlos Martins.

A orquestra de Jorge Costa Pinto abriu caminho a outras que se foram constituindo ao longo dos anos, tais como a Big Band do Hot Clube de Portugal, a Orquestra de Jazz de Matosinhos ou a Orquestra Angra Jazz. Quanto ao próprio Jorge Costa Pinto, que tocava bateria, abandonou este instrumento para dedicar-se à direção de orquestra. Nessa qualidade, grava vários discos em diversos países, tais como na Irlanda, Grécia, França, Espanha, Brasil e África do Sul. Neste último país, mais concretamente na cidade de Joansburgo, dirige no City Hall uma orquestra sinfónica e, em 1973, vai para os Estados Unidos frequentar um curso em Nova Iorque para produtores musicais. A partir daí, passa a exercer praticamente a atividade de produtor discográfico e os seus trabalhos fonográficos, quer em disco quer em partitura, podem ser encontrados numa parte significativa do mundo.

No Conservatório Nacional de Lisboa, entre 1987 e 1989, leccionou a cadeira de pós-graduação Introdução ao Jazz. Já no século XXI, Jorge Costa Pinto continua a dar concertos com a sua big band um pouco por todo lado, com excelente acolhimento por parte do público e da crítica. Isto para quem havia iniciado apenas com dezassete anos a sua carreira, tendo-se profissionalizado no Casino da Póvoa de Varzim, na Orquestra Vieira Pinto. E para alguém que, como baterista, tocou com alguns dos melhores músicos do mundo da área do jazz, com nomes como Frederich Gulda, Marshall Brown, George Wein ou Hazel Scott.

Jorge Costa Pinto, além de ser um músico pioneiro no nosso país, ajudou também a fundar o Hot Clube de Portugal, em pareceria com Luiz Villas Boas. Por tudo isso, faz parte da História da Música Portuguesa.

 


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