Notícias : Opinião

 A procura de emprego deveria vir com um aviso. Sim, um aviso prévio. Algo como: "Atenção! As seguintes ofertas podem ferir susceptibilidades. Não nos responsabilizamos por qualquer estupidez que possa ler".

Vivemos uma época em que das duas, uma, ou temos 20 anos, uma licenciatura e cinco anos de experiência (fazendo as contas, é impossível) ou então aceitamos estágios curriculares vezes sem conta e as contas pagam-se com a nossa simpatia e o nosso empenho e até com a nossa realização profissional (resta saber se o senhorio e as companhias de luz e gás aceitam essa moeda de troca).

Há dois meses que procuro emprego e tem sido este o cenário que me tem sido apresentado. Sobressai sempre a questão da existência, ou não, de ordenado Os estágios curriculares são importantes, muito importantes. Mas são-o inseridos num ambiente escolar e como primeiro contacto com a profissão e o mercado de trabalho. Agora, não se pode pedir a um licenciado que trabalhe a troco de nada, monetariamente falando.

Na semana passada vi um anúncio online de uma oferta de emprego onde, no final, se lia o seguinte: "Oferece-se remuneração mensal". Foi o primeiro anúncio para um estágio (entre centenas) onde o estagiário seria pago. Esta foi a primeira reação. Depois, li melhor. "Oferece-se"? "Oferece-se"? Ou seja, o estagiário trabalha, e sim, claro que precisa de um acompanhamento diferente mas trabalha, faz a sua parte na empresa e esta até é porreira e oferece-lhe um ordenado.

Parece-me um pouco estranho que esta situação esteja banalizada desta forma. Os estágios são uma mais valia, principalmente para o estagiário, claro, é nessa perspetiva que aprende a ser um profissional competente. Mas passados três anos de estudo e investimento (e muito investimento) em aprendizagem, a recompensa tem de ser alguma.

Conseguir emprego não é fácil mas pior ainda é passar à frente de anúncios por não fazerem qualquer sentido. Estagiário pode ser “abaixo de cão”, mas com remuneração.