A Opinião de André Loureiro
Vereador na Câmara da Batalha
O regresso das obras faraónicas
Poucos Batalhenses se lembram, mas nos finais dos anos noventa a autarquia, então liderada pelo centrista Raul Castro, inscreveu no orçamento municipal os projetos de construção de um hipódromo, em terrenos na Quinta da Cerca, na vila da Batalha, e também um aeródromo regional na Serra da Barrosinha, no Reguengo do Fetal.
Passados mais de 25 anos, o agora socialista/independente Raul Castro parece querer recuperar esta visão dos grandes projetos, sem grande rigor nem prudência, e pouca adesão às reais necessidades da população do concelho.
São exemplos desta opção por obras para “fazer de ver” as recentes intenções de construir um novo grande Centro de Saúde na Batalha, com uma estimativa financeira superior a 4 milhões de euros, ladeado por um novo pavilhão multiusos – o tal que era para fazer em Leiria – e que agora vai ver a luz do dia na vila da Batalha. Tudo obras a realizar em terrenos privados na Freiria, bem junto ao Rio Lena, e por certo a negociar em condições favoráveis para todas as partes.
Também vários equipamentos municipais vão receber obras de ampliação ou modificação - o que interessa é mudar a placa de inauguração e fazer uma coisa em grande. O pavilhão de São Mamede, entretanto suspenso, vai conhecer obras de ampliação para receber eventos desportivos internacionais (?), estimando-se em trabalhos a mais superiores um milhão de euros, nada que preocupe. Já o Parque Santa Maria da Vitória, no centro da Vila da Batalha, com base no parecer de um técnico cultural – certamente com elevadas competências de engenharia – vai conhecer obras de completa reformulação para receber grandes eventos.
A intervenção de conservação do pavilhão da Golpilheira – uma obra da responsabilidade do executivo liderado por António Lucas - foi suspensa e encomendado um relatório urgente ao Instituto Politécnico de Leiria para justificar que foi mal projetada e pior executada, encontrando-se por essa razão na lista de projetos a reformular. Resta saber se a grande reestruturação do pavilhão não será entregue ao mesmo empreiteiro que fez a obra com tantos defeitos?
Confesso que impressiona tanta ambição de destruir para voltar a fazer de novo, por certo com bastante agrado para alguns empresários amigos. Resta saber se esta vontade de realização de grandes obras e refazer outras terá o resultado esperado e sobremaneira se será em benefício do coletivo. Sim, este exercício de um certo “novo-riquismo” de quem gasta dinheiros públicos sem grande critério e para mostrar ao mundo, terá consequências para as finanças municipais e será certamente avaliado criteriosamente pelos batalhenses.
Quantas obras foram realizadas em Portugal, durante tantos anos, que nos pareceram quase faraónicas, sem que isso tivesse resultado em benefício para alguém? Hoje sabemos, feitas as contas, que houve benefícios, mas não foi para todos, foi apenas para alguns. Fica o alerta que o nosso concelho pode estar a prosseguir o mesmo caminho e, a confirmarem-se algumas destas novas empreitadas, também sabemos que o preço será pago por todos - é a governação à socialista de que não gostamos e temos má memória.
Se um projeto é bom tem de ser apoiado e é-o se não for apenas para fazer ver aos outros, se for necessário, se criar qualidade de vida, se servir as pessoas. É isso que nos interessa, deve ser esse o motivo principal para justificar os projetos públicos municipais.
NESTA SECÇÃO
“A Quaresma do deserto não é negação da autoestima”
(…) A nossa Quaresma recorda, não apenas a história de Israel, mas também a história pessoal...
Nª Srª das Candeias e a tradição dos fritos na Freguesia de São Mamede
Diz a tradição popular portuguesa que a 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias, s...
Duarte Costa, um mestre da guitarra quase esquecido
Acontece que no domínio das artes, seja na literatura, na pintura, na escultura ou na música...