Francisco Oliveira Simões (Historiador)
Crónicas do Passado
O árbitro de Wimbledon
Um rapaz almejava ser árbitro do mais ambicioso torneio de ténis em relva, o famoso é incontornável Wimbledon. Apesar disso, todas as suas tentativas de candidatura tinham sido goradas, contentando-se apenas em arbitrar pequenos opens de empresas, que realçavam a importância do espírito de equipa. Até isso, já o enfastiava e não oferecia grandes duelos desportivos. É neste contexto que o vemos a transformar a sua vida num Grand Slam.
Acidente na estrada, confusão pela certa. Gritos e uma declaração amigável para assinar.
- Quem é que bateu? - perguntou o polícia que tomava conta da ocorrência.
- Eu não fui! - afirmou o sujeito A.
- Então foi quem? O Papa? - respondeu o sujeito B.
Até que surgiu o nosso árbitro, trajado com um blazer azul escuro uma camisa azul clara, calças cremes e ténis brancos, numa tentativa de imitar o traje oficial de Wimbledon.
- 30 - love, vence sujeito A.
- Mas quem é esta personagem? Aqui ninguém ama ninguém. Eu só nutro um profundo desprezo pelo sujeito A.
- Repare eu estou a vencer nesta contenda, caro sujeito B.
- Primeiro eu chamo-me Luís, para seu conhecimento - respondia o sujeito B.
- Eu sou o Xavier, ao seu dispor.
- Ora dê cá um abraço, caro amigo - disse o sujeito A.
Abraçaram-se e foram brindar para um café perto do incidente.


Pouco depois no parlamento assistia-se a uma discussão encarniçada entre dois deputados de partidos distintos e antagónicos.
- O Senhor Deputado não percebe que o seu Partido está a dificultar a vida das pessoas.
- E o Senhor Deputado é um hipócrita. Já viu que está sozinho? Ninguém concorda consigo.
- Deuce! Iguais! - gritou o árbitro do alto das galerias.
- Mas quem é esta alma? - questionou o primeiro deputado.
- É um traidor dos ideais do povo, é o que o senhor é - disse o segundo deputado.
- Vantagem deputado B - continuava o nosso herói.
- Mas será que o senhor não ouve este papagaio? - continuava o deputado A.
- O que eu ouço é a vergonha alheia que rodeia que todos sentem pela sua presença nefasta no seio do partido em que milita - terminou o rival.
- 0 - 1, vence deputado B.
Foi assim, que o árbitro partiu, deixando um rasto de zaragata no seu caminho, numa contenda interminável, que havia de ser apaziguada num repasto opíparo, celebrado pelo convencional almoço.
Era desta forma que eram passados os dias do rapaz, cabisbaixo por apenas ajuizar partidas quotidianas, que têm a infelicidade de esgrimir argumentos sem recurso à raquete de ténis.
No fim do dia regressou a casa e, entre cartas para pagar a luz e a água, encontrou um envelope com as célebres cores do Grand Slam britânico, o verde e o roxo. Abriu e leu a missiva. Tinha sido convidado para ser árbitro de Wimbledon. O que fez o nosso herói exclamar:
- Game, set and match!
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