José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (177)

Notas Soltas sobre S. Jorge e a Batalha

É da nascença de ambas a relação histórica entre a povoação de S. Jorge, da freguesia da Calvaria de Cima e do concelho de Porto de Mós, e a Vila da Batalha. No descampado, onde hoje está a aldeia, duma certa dimensão e em expansão, de S. Jorge, deu-se o acontecimento que motivou a construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória e o surgimento da nossa Vila.

Pouco mais de dois anos depois da batalhe real de 14 de Agosto de 1385, mais tarde designada por batalha de Aljubarrota, que, repito, todo o País devia lembrar e celebrar em cada ano com propósitos pedagógicos pelo feito em si, pelas benéficas consequências para Portugal e pela porta que se abriu para o cumprimento da sua missão universal e pela forma como tudo se processou, el-Rei D. João I mandou construir, muito provavelmente em 1388, o monumento que, começando por evocar a vitória das armas portuguesas e registar o agradecimento à Virgem Maria, acabou por comemorar também toda uma época de crescimento, de inovação e de ascensão no campo militar, na actividade náutica, na política, nas Artes, nas Letras e nas Ciências, infelizmente sem repetição nos séculos seguintes.

A propósito daquele ano de 1388, hoje dado como o do início da obra monumental da Batalha, é curioso verificar que nos vitrais da Capela Mor, do seu lado sul, ele está gravado por ser o da doação do futuro convento à Ordem Dominicana ou por ser o do início da obra. Evidentemente que já não será o vitral primitivo, que a acção e a inacção dos homens e os efeitos do tempo teriam destruído, mas uma réplica que continuou a registar a data, com certeza por ela ser extremamente significativa.

Mesmo tendo começado a obra em 1388, em Janeiro segundo alguns historiadores, é espantoso que a decisão do Rei tenha sido tomada em tão pouco tempo. Conseguir fundos, estabelecer os planos, escolher e contratar mestres e obreiros, instalar dezenas ou centenas de famílias no local, organizar todo o complexo estaleiro duma obra desta envergadura, e isto ainda em estado de guerra com Castela, revela bem a força da vontade, o espírito de decisão de D. João I, a pronta adesão nacional e as capacidades, depois largamente desenvolvidas na empresa dos Descobrimentos e da Expansão, dos portugueses dos séculos XIV e XV. Tudo o que nos falta hoje.

O templo conhecido por Capela fe S. Jorge, na referida localidade, construção contemporânea da do Mosteiro e muito provavelmente com a intervenção dos obreiros da Batalha, foi mandado erguer pelo Condestável D. Nuno Álvares Pereira onde, segundo a tradição (aliás comprovada na lápida que refiro a seguir), ele erguera o seu pendão durante a decisiva batalha. Corria o ano de 1392.

Sobre a consagração do templo tem havido dúvidas, de que dá conta o Boletim nº 120, de Junho de 1965, da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (“Capela de S. Jorge de Aljubarrota”), que contém, cuidadosamente seleccionados, esclarecedores dados históricos sobre o pequeno mas muito expressivo monumento, que desde os bancos da Escola Primária e durante vários anos me habituei a visitar em romagem patriótica e em meditação sobre a missão e o destino do Povo Português.

Parece que basta a inscrição da lápida existente na Capela para que se resolva definitivamente a questão. O templo foi consagrado a Nossa Senhora, só mais tarde associando-se a invocação de S. Jorge. Esta lápida foi estudada e certificada pelo arqueólogo e considerado epigrafista medieval José Maria Cordeiro de Sousa, nascido em Lisboa em 1886, autor duma vasta obra versando, sobretudo, as inscrições históricas. É claro o que nela se diz e que resume: “… Nuno Álvares Pereira, Condestável, mandou fazer esta capela em honra da Virgem Maria (a onra da Virge Maria)…”. A inscrição, copiada na íntegra no citado Boletim, também confirma que naquele sítio esteve a bandeira do Condestável.

Lembro os possíveis, e com certeza pacientes, leitores destes modestos “Apontamentos”, de que há diversas obras a consultar sobre a Capela de Santa Maria da Vitória e de S. Jorge e sobre a batalha real. Além deste precioso Boletim, as do Professor Doutor Saul António Gomes, do Tenente-Coronel Afonso do Paço… começando-se pelas Crónicas de Fernão Lopes. Há anos, tive a honra de publicar, no nº 6 dos “Cadernos da Vila Heróica” um interessante artigo que me confiara o General Raul Pereira de Castro, contando o que se passou, por aquele campo de S. Jorge, em grande parte do século XX, várias situações em que ele interveio sempre em defesa daquele espaço sagrado e lição permanente para os Portugueses.

Nossa Senhora do Ó, do Mosteiro da Batalha 

Com seu quê de pagão,/colar de mãos espalmadas,/Senhora Mãe da Espera/saída da imaginação/de ignoto pedreiro/(mestre de conhecimentos/perdidos no fundo dos tempos). Imagem de sacralização/da vida, que germina e floresce/em humano ventre materno/de divina dimensão/e igual destino eterno.

Legenda da imagem: Reproduz-se do Boletim da Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, referido no texto, este belíssimo desenho da Capela de Santa Maria da Vitória e de S. Jorge, feito pela Rainha D. Amélia, mulher de D. Carlos I, o soberano também um artista de mérito, em 1904. Pertence à Fundação da Casa de Bragança.

Peça a peça, o Museu Etnográfico da Alta Estremadura

Visitámos já duas divisões do Museu: a das miniaturas etnográficas, dalguns instrumentos musicais em tamanho natural e dalgumas obras de Arte, em que se incluem aguarelas de Guilherme Correia e de Artur Franco, gravuras do século XIX e trabalhos, tãoi representativos da Batalha, dos nossos canteiros, e, com passagem directa, a da sala de aulas da Escola Primária dos anos 30, 40 e 50 do século XX. Da divisão das miniaturas, que fica à esquerda de quem sobe as escadas de acesso ao primeiro andar, passa-se para a outra parte do edifício, que tudo indica datar do século XVIII, cujas paredes interiores são de carrisca, casca de pinheiro unida por argamassa, possivelmente feita de saibro, cal e azeite, e metida entre fasquias muito mais largas do que as de tabique. Tanto estas paredes de carrisca, como as de tabique e de tijoleira, protegidas por painéis de vidro, podem ser apreciadas pelos visitantes. E, neste número do Jornal, apresentamos apenas a passagem entre os dois corpos do edifício. Tirada a fotografia da divisão das miniaturas, ainda vemos, à esquerda, o armário das embarcações típicas da costa da Alta Estremadura, e à direita duas gravuras oitocentistas e parte do armário das alfaias agrícolas.


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