José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (214)

Nos 58 anos do Rancho Folclórico Rosas do Lena

Jesus

 

Renasce

todos os anos

no meu coração

este Deus meigo

e fraterno,

e todos os anos

O julgo e condeno

à minha dimensão.

Jesus, como Te recebo

e albergo

se no templo que concebo

só cabe um deus pagão?

 

 

Tem sido o Folclore, agregando centenas de grupos e muitos milhares de pessoas de todas as idades, o único movimento cultural a tentar preservar as distinções do Povo Português.

Um desses grupos com sede numa aldeia, a Rebolaria, da freguesia e do concelho da Batalha, completa neste mês de Fevereiro cinquenta e oito anos de actividade intensa, muitas vezes original e sempre resultante duma boa administração e dum trabalho aturado e sacrificado.

Criado a partir duma marcha carnavalesca em breve se transformou num rancho folclórico, mercê da intervenção do Mestre António Pereira Marques e do Engenheiro Adriano Luís Meneses Monteiro.

Ao longo dos anos, foram seus presidentes o referido engenheiro e o Mestre Marques, a que sucederam Adriano Nazário e Fernando Augusto, voltando depois a assumir o cargo o Mestre Marques, também por largos anos seu ensaiador e orientador. Seguiram-se na presidência do agrupamento Rui Manuel de Sousa Pinheiro, José Luís Jordão Vieira Ruivo, Fernando José Moreira da Silva Ribeiro, de novo José Luís Ruivo, Armindo Carvalho Pina e Moura e pela terceira vez José Luís Ruivo. Já nos finais do século XX e princípios deste século, ocupou o cargo Cecília Calé Gaspar e desde Janeiro de 2009 e até hoje José António Vieira Bagagem, que completou em 16 de Janeiro 12 anos à frente do grupo, encontrando-se já no sétimo mandato.

Além do Mestre António Marques, de inesquecível memória, têm ensaiado o Rosas do Lena, José Luís Vieira Ruivo, José António Bagagem e Manuel Gregório Vicente Moreira, sendo regente da tocata, e neste caso continuador do saudoso Vergílio Pereira, Joaquim Moreira Ruivo.

Como já se disse, José António Bagagem preside à direcção secundado pelo vice-presidente Nelson Silva Grosso, à assembleia geral preside Joaquim Ruivo e ao conselho fiscal Rui Soares Baptista.

O historial do agrupamento é notável pela quantidade e qualidade das acções desenvolvidas, muitas extraordinariamente originais, e pela obra erguida.

Começando por esta, o Rosas do Lena possui um património, invulgar nas associações, desde a sede, construída de raiz, que engloba vasto espaço para ensaios, dormitórios para receber grupos estrangeiros, balneários, cozinha e diversas arrecadações; um palheiro reconstruído e adaptado, no piso superior com sala para reuniões e gabinete de trabalho dos corpos gerentes e no rés-do-chão com um espaço para pequenas exposições, a biblioteca etnográfica, das raras existentes no País, neste momento a ser remodelada e aperfeiçoada, e ainda uma taberna típica. Estes dois edifícios são cercados por terrenos do agrupamento a oeste onde há diversas arrecadações e uma autêntica praça onde se realizam algumas das suas actividades.

Completando este património, noutro ponto da aldeia, nas proximidades da capela de Santo António, fundou o Rancho um museu etnográfico (Museu Etnográfico da Alta Estremadura/Casa da Madalena), num edifício setecentista/oitocentista, em parte doado e em parte comprado. No primeiro andar reconstituiu na parte mais antiga a casa rural estremenha, com casa de fora, quarto, cozinha e casa do tear. Na cozinha revela, num painel, as paredes interiores de carrisca (casca de pinheiro). Na parte mais recente do edifício, expõe uma vasta colecção de miniaturas etnográficas, além de instrumentos musicais em tamanho natural, de fotografias do século XX, gravuras do século XIX e quadros de artistas da região. Deste espaço passa-se para outro onde reconstituiu uma sala de aulas da antiga Escola Primária. Mais duas paredes são reveladas em painéis: a de tijoleira e a de tabique. No sótão, sua arrecadação geral, mostra os trajos da recolha original que serviram de modelo aos usados pelo agrupamento. No rés-do-chão tem a exposição de alfaias agrícolas. No pátio, o forno, uma picota e o poço.

Federado desde o início da Federação do Folclore Português, participou praticamente em todos os grandes festivais nacionais e internacionais que se realizam no nosso País, incluindo duas deslocações a S. Miguel, Açores. Entre outras actuações marcantes, participou na Expo 98, na “Guimarães, Capital Europeia da Cultura”, a bordo por duas vezes do transatlântico grego “Golden Odissay” surto no Tejo. São mais de três dezenas as suas actuações no estrangeiro, sempre em grandes festivais, nomeadamente na Alemanha, Áustria, Croácia, Eslovénia, Eslováquia, Espanha (6 vezes), Estónia, França (8 vezes), Holanda, Hungria, Itália (duas vezes: Sicília e Sardenha), Lituânia, Polónia (2 vezes), Rússia, Sérvia e Ucrânia.

Criou o interessante espectáculo etnográfico “A Batalha a Cantar e a Dançar, da Quaresma a Santo António” que apresentou em diversos sítios, nomeadamente no Teatro da Trindade, em Lisboa, e em teatros de Viana do Castelo, de Viseu e de Faro. O seu desempenho mereceu um prémio do INATEL. Criou e impulsionou as Galas Internacionais de Folclore da Batalha, o FESTIBATALHA, “As Tardes na Ponte da Boitaca”, os Encontros Nacionais de Cantadores e de Tocadores de Instrumentos Tradicionais, a “Adiafa da Cultura”, as exposições temáticas “O Museu desceu à Vila”, o “Museu ao Vivo”, as demonstrações das curas e mezinhas populares, entre outras manifestações culturais.

Orientada pelo mestre Joaquim Moreira Ruivo, tem tido em funcionamento (agora interrompido pela tragédia da pandemia) a Escola de Harmónio e Concertinas.

O agrupamento foi diversas vezes galardoado pela Câmara Municipal da Batalha, pela antiga Região de Turismo “Rota do Sol” de Leiria e pelo INATEL.

Tem diversos discos gravados desde 1967 e CDs, além de um DVD.

Uma das suas iniciativas marcantes, neste caso tentando manter valiosas tradições religiosas populares, tem sido os Cânticos da Quaresma, infelizmente também interrompida no ano transacto.


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