João Pedro Matos

Tesouros da Música Portuguesa

Nas Dunas com o Grupo Novo Rock

Os GNR (sigla de Grupo Novo Rock), como a maioria dos grupos de música moderna, tiveram o seu período de apogeu. Curiosamente, o seu período de ouro foi antes de encherem estádios de futebol, popularidade que aconteceria na década de noventa do século passado. Mas, dez anos antes, entre 1981 e 1986, a sua luz brilharia muito intensamente nos álbuns “Independança”, “Os Homens não se Querem Bonitos” e “Psicopátria”.

Pode dizer-se que, com a entrada de Rui Reininho na sua formação, este projeto musical recebeu uma lufada de ar fresco; isto porque Reininho trazia consigo uma quantidade de ideias vanguardistas para a época e que vinham da sua aprendizagem no grupo Anar Band que antes constituíra juntamente com Jorge Lima Barreto.

Nessa época, os GNR eram formados por Alexandre Soares (na guitarra e na voz), Toli (na bateria), Vítor Rua (guitarra e baixo) e Miguel Megre (baixo e teclados). E já tinham gravado dois singles: Portugal na CEE e Sê um GNR. Mas em 1982 preparavam o seu primeiro registo de longa duração e Reininho substitui Alexandre Soares nas vozes.

É assim que surge à luz do dia “Independança”, um trabalho marcado pelo sarcasmo, pelo humor e até pelo surrealismo das suas letras. Sem exagero, o disco evocava a fantasia, a angústia e o humor presentes nas obras de Artaud, Buñuel ou Cocteau.

Era mais do que uma simples crítica social: tratava-se de trazer a imaginação no seu esplendor para a música e, mais concretamente, para o rock português. O melhor exemplo disso, é o tema que preenchia todo o lado B do disco, intitulado Avarias e que pelo seu experimentalismo fazia lembrar a grande música de Luciano Berio ou a orquestra Return to Forever de Chick Corea.

Depois da atuação no festival de Vilar de Mouros, os GNR assistem à saída de Vítor Rua que, com Jorge Lima Barreto, fundaria os Telectu. Por seu turno, vários músicos dos GNR produziriam o primeiro álbum de António Variações, intitulado Anjo da Guarda.

Em Abril de 1984 é a vez de Defeitos Especiais, um álbum onde destacava-se a faixa Piloto Automático. Um ano depois, a vez do terceiro registo de longa duração que é, na nossa opinião, a obra maior do Grupo Novo Rock. Tratava-se de Os Homens Não se Querem Bonitos, disco que continha hinos como Sete Naves ou Dunas.

Em particular, esta última canção, depressa se converteu num tema clássico da música moderna portuguesa. A canção fala de um verão à beira mar, um verão que só existe nas imagens sintéticas da televisão e é apelativa ao mito da eterna juventude. Mas outros títulos de Os Homens Não se Querem bonitos merecem ser referidos pela invenção de formas poéticas nunca encontradas no rock nacional, como sejam Sta. Polónia ou Freud & Ana.

Um novo álbum dos GNR sai em Outubro de 1986 e marcará uma nova fase do grupo. Psicopátria depressa toma de assalto as tabelas de vendas, muito à custa de canções que se ouvem nas rádios até à exaustão: Pós- Modernos, Bellevue ou Efectivamente são alguns dos temas que depois serão recriados nos espetáculos ao vivo que a banda dá um pouco por todo o país.

Acontece, porém, que o ano de 1987 ficará marcado pela saída de Alexandre Soares que abandonará os GNR para criar outro projeto musical que ficará nos anais da música moderna portuguesa: os Três Tristes Tigres. Finalmente, após alguns discos menos conseguidos, os GNR lançam em 1992 o álbum Rock in Rio Douro.

Este trabalho continha uma preciosidade: a faixa chamada Pronúncia do Norte que era um dueto entre Rui Reininho e Isabel Silvestre, a conhecida intérprete do Grupo de Cantares de Manhouce.

E até os dias de hoje o Grupo Novo Rock continua na senda da criatividade, sendo mais que um mero sobrevivente da década de oitenta do século passado: é, na verdade, uma referência incontornável da música portuguesa.

 


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