José Travaços Santos

Baú da Memória

Miniaturas etnográficas na Galeria do Turismo

Apesar da paragem, forçada pela pandemia, das suas actividades com público, o Rancho Folclórico Rosas do Lena, da Rebolaria, não deixou de fazer os seus trabalhos de casa e levar avante algumas iniciativas permitidas pela actual situação tão grave como inesperada.

Assim levou avante, na Batalha, a sua terceira exposição subordinada ao tema “O Museu desceu à Vila”, desta vez para mostrar grande parte da sua valiosa colecção de miniaturas etnográficas do espólio do Museu Etnográfico da Alta Estremadura/Casa da Madalena. Trata-se da história, ainda recente em muitos casos, das ferramentas, dos utensílios caseiros, das alfaias agrícolas, de carros e carroças, dos invulgares barcos da costa alto-estremenha e inclusivamente das manifestações religiosas do povo do nosso concelho e dos concelhos vizinhos.

A exposição, que teve apoio decisivo da Câmara Municipal, manteve-se, no nosso posto de Turismo de 8 de Agosto a 5 de Setembro, servindo também para evocar alguns artesãos da nossa região, nomeadamente Joaquim Saraiva Ceiça que além da sua habilidade para, nas horas vagas, construir pequenas maravilhas da arte popular, foi um excelente músico fundador da Orquestra Típica e Coral da Batalha que teve como regentes, Arnaldo Monteiro, Prof. Mário Neto e Carlos Pinção. Outro dos artesãos recordado através dax suas obras, foi o calafate nazareno Augusto Sabino autor de peças preciosas como as da barca salva-vidas da Nazaré, do batel do alto e do barco de carreira ou mar-em-fora, barcos únicos da nossa costa, do vieirense Júlio Crespo, do nosso artista-latoeiro José Marques e ainda de Carlos Belo.

A propósito dos barcos de pesca da costa alto-estremenha, a Nazaré, conforme já o disse várias vezes, devia ter um grande museu em que se mostrassem em tamanho natural os seus barcos únicos como o salva-vidas, que ainda existe, ou o de carreira ou mar-em-fora que teria de ser reconstruído ou os da arte xávega de que julgo ainda existirem alguns. Não seriam apenas um atractivo turístico mas a preservação de valores invulgares e, simultaneamente, homenagem à memória dos calafates que os faziam e dos verdadeiramente heróicos pescadores que os tripulavam. Sobre a via dolorosa dos pescadores nazarenos recebi há anos, do meu prezado amigo Fernando Barqueiro, o livro “Procissão do Mar” do já falecido poeta José António Caneco. É uma obra duma beleza e duma profundidade raras, que devia ser muito divulgada. Se possível referir-me-ei a ela num os próximos números do Jornal.


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