Francisco André Santos

Diacrónicas

#Metadiscussão #PinhaldoPovo #IniciativaCidada

As nossas redes sociais funcionam um pouco em favor das estações: da Primavera da Eurovisão, fomos ao Verão de Trump e Madonna, até à última chama do Outono. Espelhamos o sentimento do país, da euforia ao desastre. Ficámos em choque com o contraste da imagem de modernidade e sucesso, comparado com a nossa incapacidade de colaborar além das estações.

Tal como somos acossados pelos incêndios, também os políticos são acossados pela pressão popular. Aqueles que elegemos para nos representarem, apresentam os mesmos defeitos e qualidades que todos nós. Os sistemas dos políticos falharam. Cabe agora a nós, exigir um mandato para a manutenção daquilo que é de todos. Isto apenas será possível se se constituírem grupos capazes de utilizar este mesmo mandato para reerguer e manter a nossa floresta.

Acumulam-se 25 mil pessoas no grupo de Facebook #PinhaldoPovo. A página “Todos Juntos Pela Reflorestação do Pinhal de Leiria”, mais de três mil gostos. Até agora foram organizadas recolhas de bens, petições, manifestações, e informação em tempo real relativamente aos acontecimentos. Os últimos dias assistem menos ação nas mesmas páginas. Uma das lições que retiramos de outros movimentos nas redes sociais é que tão depressa surgem como desaparecem. No decorrer, surge a oportunidade de consolidar a massa de gente disposta a contribuir. Quando um assunto faz parte da agenda da comunicação social, podemos esperar alguma ação política. Quando um assunto faz parte da agenda das redes sociais, podemos esperar alguma ação da comunicação social.

É difícil organizar tantas pessoas, mas as ferramentas estão todas disponíveis. Devem ser criados grupos de trabalho especializados que consigam filtrar os conhecimentos dentro destes grupos. Um Slack (ferramenta de comunicação e discussão) em conjunto com trabalho em documentos colaborativos como Google Docs, permite a organização de propostas e projetos. O grupo do #PinhaldoPovo, para o anúncio destas mesmas iniciativas, e o hashtag, utilizado para a organização de tópicos de discussão, e “tagging” para notificar aqueles que têm mais disponibilidade para contribuir. A comunicação aberta dos projetos, como método de recrutamento, promoção, e obtenção de um mandato transparente e apartidário. Uma Wikipédia, uma maneira de facilitar a construção de conhecimento sobre o pinhal.

Estes métodos online, devem ser feitos em conjunto com participação offline. Assembleias cidadãs devem ser transmitidas, e a sua discussão documentada para o passo seguinte. A facilitação de workshops e aulas abertas permitem a difusão do conhecimento de especialistas assim como a criação de novos grupos dispostos a por as mãos à obra.

Estes devem ser mapeados e sistematizados, para a coordenação de todos os esforços. A sustentabilidade financeira do projeto pode ser feita inicialmente por crowdfunding. Orçamentos para o pagamento do trabalho dos dinamizadores mais ativos, discutido e acordado, assim como outros projetos de manutenção e prevenção de fogos nas nossas florestas. Uma possibilidade seria a criação de mesh networks, de maneira a identificar precocemente mudanças no clima.

As possibilidades das cidades inteligentes podem dar lugar às nossas florestas inteligentes, e quiçá, um modelo de negócio que garanta a sustentabilidade financeira perante uma menor participação dos nossos políticos que se demitam de coordenar estes processos. A iniciativa cidadã não pode estar refém da autoridade política. Resta perceber se as nossas florestas podem continuar reféns das nossas iniciativas. Deixo/agradeço os links nos comentários online.


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