José Travaços Santos

Baú da Memória

“Memória Revisitada”

Em 1808, o notável pintor português Domingos António de Sequeira, nascido em Lisboa em 1768 e falecido em Roma em 1837, acompanhou numa viagem, pela nossa Estremadura, o conde Luís Nicolau Filipe Augusto Forbin, pintor e arqueólogo francês, oficial do estado-maior do exército invasor de Junot. Para este acompanhamento e para esta digressão, que incluiu Alcobaça e Batalha, a que já fiz referência há bastantes anos nestas mesmas páginas, não encontro explicação que não me deixe inquieto quanto ás intenções do francês. E como compreender esta camaradagem entre o nosso grande pintor e o seu congénere francês, neste caso um oficial superior dum exército inimigo?

A verdade é que visitaram demoradamente o nosso Mosteiro, ainda Convento Dominicano, tendo Domingos de Sequeira aproveitado a ocasião para registar, em preciosos desenhos, alguns valores aqui existentes, entre outros armas e armaduras de membros da família de Avis, valores que então estariam num armário instalado num arco que fica à direita de quem entra na Capela do Fundador. Na mesma altura, Domingos de Sequeira fez um esboço do quadro que retratava, obra atribuída a Rogier van der Weyden, a família dos duques de Borgonha. O duque era então Filipe o Bom e a duquesa a notável Infanta portuguesa, D. Isabel, filha de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, pais de Carlos o Temerário, que também figura neste quadro, em que os três adoram o Menino ao colo da Virgem.

O quadro desapareceu, supõe-se que por altura da invasão de Massena (1810-1811) e das armas e armaduras salvaram-se algumas, que os frades teriam escondido, indo mais tarde, crê-se que pelos terceiro ou quarto quartéis do século XIX, parar a Lisboa, ficando à guarda do actual Museu Militar.

Em mais uma iniciativa do dinâmico director do Mosteiro, Dr. Joaquim Pereira Ruivo, estão de volta ao seu armário, para mais uma notável exposição. Dois elmos, duas espadas e uma réplica dum escudo. Uma espada será de D. João I, outra de D. João II, um elmo será de D. João II e outro do filho deste monarca, o príncipe D. Afonso.

Contudo, o que há para dizer sobre tais relíquias e sobre a iniciativa que teve a coordenação científica de Miguel Sanches de Baena e a intervenção doutros especialistas, é tanto que preencherá várias páginas do jornal. Para já, anote-se que a identificação das peças que acompanhou, pela mão do próprio pintor, os desenhos de 1808, suscita algumas dúvidas, aliás de pouca monta e que de forma alguma diminuem a importância documental e histórica e, também, da arte de armeiro, revelada nesta exposição, uma das várias exposições que estão patentes no Mosteiro e que os nossos leitores não deverão deixar de visitar.


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