José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (207)

As lendas e a verdade histórica

As lendas, não obstante serem frequentemente bem entretecidas, raramente correspondem a um facto histórico pelo que nos induzem em erros que se vão propalando e substituindo ou confundindo a realidade.

Na Batalha há várias, desde a escolha do local para construção do Mosteiro, à construção da arrojada abóbada da Casa do Capítulo, aos topónimos.

Lançar uma seta ou, ainda pior, uma espada a três quilómetros de distância é façanha que só seria possível se aquelas armas fossem impulsionadas por um dos foguetões do nosso tempo…

Evidentemente que D. João I fez uma pesquisa aturada, ouvindo com certeza gente abalizada para o efeito, até encontrar o sítio indicado para o monumento, escolhendo inteligentemente um local abrigado dos ventos, com água abundante e com outras condições para uma obra desta dimensão, para onde se teriam de acarretar milhares de toneladas de calcário e onde se iria instalar uma comunidade obreira e pouco depois uma comunidade religiosa que, evidentemente, precisavam de terras aráveis para as suas hortas, os seus pomares, as suas searas de trigo, as suas vinhas.

A Vila Facaia, nada tem a ver com uma “vila ficai”, sítio onde “pousou” a seta voadora, mas com o nome do seu primeiro morador: um tal Facaia. Na Estremadura há mais uma “Vila Facaia” no concelho de Torres Vedras e há outra no norte do distrito de Leiria. Aliás são vários os antropónimos a designar povoações, na paróquia da Batalha: Casais dos Ledos (do primeiro habitante: João Eanes Ledo), Faniqueira (duma família de apelido Faniqueiro), Casal do Alho (do primeiro habitante chamado Alho), Casal do Quinta (da família Quinta), Brancas (possivelmente de duas senhoras, mãe e filha, de nome próprio Branca, familiares de mestres do Mosteiro), etc..

Aquele volume enorme do Monumento, que iria recordar pelos séculos fóra a batalha que nos assegurou a independência por quase duzentos anos e imprimiu na alma do nosso Povo um sentimento de liberdade e de autonomia que refloresceu em 1640, ao mesmo tempo que agradecia à Virgem Maria a espantosa vitória, demorou perto de um século e meio a erguer-se andando no passo da época e conforme as finanças reais que não tinham só o Mosteiro a construir. Caminhou-se, com certeza, a passo de caracol, pelo que não é de aceitar o ano de 1386 para o seu início, ainda a viver-se o período conturbado da guerra com Castela, sendo mais plausível o de 1388, aliás indicado pelo Professor Reynaldo dos Santos.

Ora, o primeiro arquitecto que é comprovadamente o Mestre Afonso Domingues, tem pouco tempo para executar o que planeara pois em 1402 já é dado como falecido. Seria ele a planear o corpo da igreja, a sacristia, o claustro real, o dormitório, o refeitório e a cozinha e a casa do capítulo, mas tudo ficou incompleto como é de calcular pelo pouco tempo a dirigir a obra. Na igreja fez as naves laterais e as quatro capelas absidais deixando o resto (nave central, transepto e capela mor) para o seu sucessor, Huguet, que se crê catalão, como se pode ver pelas nervuras das respectivas abóbadas, redondas em Afonso Domingues, esquinadas em Huguet. Em 1402 era impossível já estar coberta a casa do capítulo. Pode ter sido Domingues a desenhá-la mas quem fez a arrojada abóbada foi Huguet. Aliás, as suas nervuras esquinadas são as que a abóbada ostenta. Pelas nervuras das coberturas do claustro real também podemos descobrir quem fez umas e quem fez outras: as arcarias sul e leste são de Domingues, as do norte e oeste são de Huguet.

Voltando aos topónimos, surgem-nos duas lendas, uma das quais relacionadas com a construção do Mosteiro: a da Rebolaria de onde se “rebolavam” as pedras para a construção. Ora, não teria qualquer sentido os carros de bois carregados de pedra calcária virem, da primitiva pedreira, a do Valinho do Rei, nas proximidades da Torre da Magueixa, até ao morro da Rebolaria e dali a atirarem para o estaleiro. Não é possível rebolar pedras rectangulares, nem adiantaria nada ter de voltar a carregá-las para as levar para a obra a um quilómetro de distância. Evidentemente que Rebolaria provém de rebolo, castanheiros bravo, sendo portanto uma mata de castanheiros bravos. Em épocas em que ainda se desconheciam as batatas, as castanhas eram usuais na nossa culinária.

A outra lenda é a das Alcanadas (na Idade Média, Alcanada). Será um topónimo misto, com o Al árabe e com a Canada latina a querer significar vale ou azinhaga.

A fotografia que ilustra o apontamento foi tirada no século XIX, talvez nos anos 70 ou 80 desse século.

 

A Língua Portuguesa

 

Sem que o Estado e as Academias assumam a obrigação de defender o principal esteio da nossa Cultura, continua a destruição, palavra a palavra, do Idioma. São tantos os vocábulos estrangeiros a substituir os nossos que nomeá-los daria para encher dezenas de páginas do jornal. Há poucos dias davam os meios de comunicação social a conhecer o ranking das nossas Escolas. Ora, ranking é exactamente apreciação, atribuição de valores, caracterização, classificação, qualificação. Que necessidade há em utilizar o termo estrangeiro?

Que se passa com o Povo Português que parece estar, no nosso tempo, cada vez mais empenhado em destruir a sua Cultura e a sua História?

 

Dr. Carlos Caldas distinguido pelos Bombeiros

 

Em Assembleia Geral da nossa Corporação de Bombeiros Voluntários, realizada em 26 de Junho, por proposta da sua direcção foi proclamado sócio benemérito o Juiz Conselheiro Dr. Carlos da Silva Caldas em virtude dos seus valiosos apoios monetários concedidos ao longo dos anos.

O Dr. Carlos Caldas, nascido na Batalha em 10 de Agosto de 1930, é uma das figuras marcantes da nossa vila, sendo o primeiro batalhense a ascender ao cargo de Juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Já reformado publicou um livro de poemas, a que me referi oportunamente no Baú da Memória, “No Tempo e no Espaço”, em que revelou uma poesia de grande beleza formal e com profundo sentido.

Parabéns ao homenageado e aos nossos Bombeiros, um dos melhores corpos de voluntários do nosso País, pelo seu exemplar acto de gratidão.

 

Manuel Carreira Rito

 

Faleceu o Manuel Carreira Rito, uma figura que deixa marca profunda na nossa comunidade. Homem bom e sempre empenhado na vida colectiva, a que deu o melhor de si, era o director-adjunto do conceituado “Jornal da Golpilheira”, verdadeiro braço direito do director Dr. Luís Miguel Ferraz. O Manuel Rito desdobrava-se para estar presente em tudo que merecesse referência, sendo sempre os seus relatos pormenorizados e de grande fidelidade. Sobre a doença, que o acompanhou nos últimos anos, escreveu páginas que nos desvendam uma realidade de que não dávamos conta e que, talvez com mais frequência do que pensamos, temos à nossa porta.

À sua esposa, à restante família e ao “Jornal da Golpilheira”, os nossos mais sentidos pêsames.


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