José Travaços Santos

Baú da Memória

Independência integral dos povos e seu destino

O que está a passar-se na Espanha veio pôr em relevo a extraordinária importância das datas portuguesas de 14 de Agosto de 1385 e de 1 de Dezembro de 1640, esta a completar no próximo mês 377 anos, ocasiões em que os nossos antepassados conseguiram garantir, com coragem inexcedível, vontade firme e propósitos claros, a independência do nosso País e evitar-nos, nos dias que correm, os problemas, evidentemente muito graves, que afectam o País vizinho.

Infelizmente, os acontecimentos, que tornaram essas datas marcos gloriosos da História de Portugal, continuam a não ser valorizados e aproveitados pelos governos e pelas Escolas nacionais, perdendo-se, para as novas gerações de portugueses, lições, que nada substitui, sobre a necessidade da independência integral para que cada Povo possa ser o protagonista do seu futuro, da sua elevação cultural, da construção da sua liberdade política e do modo de vida que mais lhe convier e agradar.

Particularmente o 14 de Agosto de 1385, que tanto diz à Vila da Batalha, guardiã do monumento que evoca o que então se passou e as consequências da vitória portuguesa, entre elas a idealização e a realização da empresa dos Descobrimentos pelos nossos antepassados, antes de qualquer outra nação europeia, a mais relevante das epopeias modernas, e a nossa ascensão literária, artística e científica naqueles séculos XV e XVI em que sobressaem figuras, entre muitas outras, como Camões, Gil Vicente, Pedro Nunes, Nuno Gonçalves, e em que se erguem padrões máximos da arquitectura como Santa Maria da Vitória, Jerónimos e Torre de Belém.

Mas se a independência da Pátria Portuguesa já não voltará a ser posta em causa pela Espanha, que agora corre o perigo de se desfazer nas suas componentes, tem hoje outros predadores, mais subtis, a ameaçá-la não pela força das armas mas pela irresistível atracção das benesses materiais dum novo paraíso na Terra. Como há mais de dois mil anos Filipe II da Macedónia dizia, e provou na fácil conquista duma Grécia vendida e rendida no ano de 338 aC, “não há cidade que resista a um macho carregado de prata”.

Chegou-me, entretanto, a notícia de que em Beja foram arrasados uma ponte, um aqueduto e uma vila romana e outros vestígios arqueológicos de várias épocas, para uma empresa espanhola aí plantar um amendoal. A inacção das entidades oficiais, como referi na secção de Outubro, a propósito de Juromenha e doutros valores patrimoniais, já é escandalosa. Para que serve o Ministério da Cultura?


NESTA SECÇÃO

“A Quaresma do deserto não é negação da autoestima”

(…) A nossa Quaresma recorda, não apenas a história de Israel, mas também a história pessoal...

Nª Srª das Candeias e a tradição dos fritos na Freguesia de São Mamede

Diz a tradição popular portuguesa que a 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias, s...

Duarte Costa, um mestre da guitarra quase esquecido

Acontece que no domínio das artes, seja na literatura, na pintura, na escultura ou na música...