Oksana Halamay

Médica Interna de Medicina Geral e Familiar, USF Condestável, Batalha

HPV – proteja o futuro de quem mais ama

O Vírus do Papiloma Humano (HPV) é considerado um carcinogéneo humano, de acordo com os critérios da International Agency for Research on Cancer (IARC). É responsável por quase todos os casos de cancro do colo do útero, das lesões pré-invasivas e invasivas anogenitais, da cabeça e pescoço, assim como de condilomas anogenitais e da papilomatose respiratória recorrente.

Estão descritos mais de 200 tipos de HPV, dos quais cerca de 40 infetam preferencialmente o trato anogenital. A IARC classifica os HPV 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 66 como vírus do Papiloma Humano de alto risco (HPV-AR) e os HPV 6, 11, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 como vírus do Papiloma Humano de baixo risco (HPV-BR). Os genótipos 16 e 18 são responsáveis, para além do cancro do colo do útero, por uma fração variável de cancro de vulva, vagina, pénis, ânus e orofaringe. Os genótipos 6 e 11 causam, principalmente, lesões cervicais, vulvares e vaginais de baixo grau, sendo responsáveis por 90% das verrugas anogenitais ou condilomas acuminados.

Em Portugal, na população feminina, existe uma prevalência de infeção por HPV de 19,4%, sendo que em 76,5% dos casos estão envolvidos vírus de alto risco oncogénico (HPV-AR). Como a maioria das infeções sexualmente transmissíveis, o seu pico de incidência ocorre no adulto jovem, sendo mais rara depois dos 30 anos. A partir dos 50-55 anos, observa-se um aumento na prevalência, que poderá ser explicado por novos contactos sexuais ou imunossenescência, o que permite a expressão de infeções latentes, até então indetetáveis.

A nível mundial, estima-se que 80% da população tenha tido um episódio de infeção por HPV durante a sua vida. A resolução espontânea da infeção é comum. As infeções associadas aos genótipos de alto risco têm menor probabilidade de regressão.

Nos homens, os dados sobre a prevalência e a história natural da infeção por HPV indicam que a incidência média acumulada em heterossexuais entre os 18 e os 44 anos oscila entre os 56 e 65%, dos quais 26 a 50% são causados por HPV-AR.

A persistência da infeção por um HPV-AR é causa necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento do carcinoma do colo do útero (CCU).19 A carcinogénese do colo do útero é um processo multifatorial associado à infeção persistente pelo HPV-AR, com uma evolução relativamente lenta (15 a 25 anos, desde a infeção), proporcionando oportunidades de intervenção na prevenção.

A vacinação tem demonstrado ser uma das armas mais eficazes e custo-efetivas em termos de Saúde Pública. Em todo o mundo, estima-se que os programas de imunização previnam cerca de 2,5 milhões de mortes por ano. Atualmente, apenas a vacina nonavalente (Gardasil9) se encontra disponível em Portugal. A vacina é gerada por tecnologia recombinante e composta por partículas semelhantes aos vírus-VLP (virus like particles).

O principal objetivo da vacinação consiste na prevenção do CCU, na redução significativa dos resultados citológicos cervicais anómalos e respetivos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Os objetivos associados são a prevenção de outros cancros relacionados com o HPV.

A vacina contra o HPV tem eficácia profilática, sendo que o potencial preventivo é maior quando aplicada a indivíduos não expostos. Em 2008 a vacina contra o HPV foi introduzida no PNV para as adolescentes de sexo feminino com 13 anos de idade, com uma campanha de repescagem até aos 17 anos (nascidas a partir de 1995). Em 2017 a vacinação foi antecipada para os 10 anos, conciliando com a administração da vacina Td e antecipando a idade de proteção.

Desde 1 de outubro de 2020, o Programa Nacional de Vacinação (PNV) alargou a vacinação contra o HPV aos rapazes, nascidos a partir de 2009, sendo assim, todos os rapazes nascidos a partir de 2009 e raparigas nascidas a partir de 1995 que iniciem o esquema antes dos 18 anos, podem completar o esquema gratuitamente até completarem 27 anos.

A importância da vacinação vai muito além da prevenção individual. Ao vacinar-se, está a ajudar toda a comunidade a diminuir os casos de determinada doença. A nossa saúde não é só o resultado dos nossos atos, mas também do nosso pensamento, por isso pense e atue.


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