A Opinião de André Loureiro

Presidente do PSD da Batalha

A guerra da Ucrânia e a política das selfies

Os sérios desafios que o mundo enfrenta hoje – de crises climáticas a pandemias, do agravamento da guerra da Ucrânia aos perigos do confronto nuclear, do aumento das violações dos direitos humanos ao crescimento exponencial de refugiados e fome – exigem mais do que nunca um mandato forte das instituições europeias, o reforço das ações de manutenção da paz e segurança coletiva e a defesa e promoção dos direitos humanos.

A invasão da Ucrânia é uma situação que necessariamente aterroriza a população, provoca sofrimento humano, mortes entre civis e centenas de milhares de refugiados. Quem esperava por um acontecimento desta gravidade? Creio que ninguém, exceto os invasores e líderes da Rússia, contavam com esta guerra sem justificação e de consequências humanas dramáticas.

Importa, por isso – e sem hesitações – acudir aos cidadãos ucranianos que são obrigados a fugir do seu país, em particular as crianças que mais sofrem com a guerra, mas também acudir aos milhões de refugiados que vivem uma situação humanitária desesperante, apoiando os países de fronteira como a Polónia, que estão a fazer um trabalho notável no acolhimento e apoio aos deslocados da guerra.

Infelizmente, a reação a esta tragédia humana não conheceu por parte de inúmeras instituições mundiais, europeias e também nacionais, a mesma dimensão, por exemplo, que conhecemos ao nível da concertação de esforços para combater a Covid-19. É certo que num cenário de guerra, a pandemia passou para segundo plano, mas é notório que nesta fase os ucranianos após tanta promessa, nos dias seguinte à invasão do seu país foram abandonados e condenados a lutar sozinhos pela sua terra.

Todos assistimos aos pedidos das autoridades da Ucrânia, às declarações desesperadas do Presidente Zelensky e de tantos outros dirigentes e responsáveis de organizações humanitárias que ainda resistem no terreno de guerra, mas para além de ações de pressão económica de duvidosa eficácia e declarações críticas ao líder da Rússia, no ponto de vista da dita comunidade internacional, fica a ideia de passividade face à situação desesperante do povo ucraniano.

Neste particular, também no nosso país a reação primeira foi dos cidadãos, da comunidade ucraniana residente e progressivamente das autarquias, uma vez que o Governo e as instituições da administração central, uma vez mais, apenas reagem em função do espaço mediático e pela pressão das notícias de imprensa.

Ao fim de duas semanas de guerra na Ucrânia e já com dezenas de milhar de refugiados chegados a Portugal, ainda não conhecemos qual a estratégia nacional de apoio e integração destes cidadãos que também neste domínio foram relegados à sorte – e com justiça – aos cuidados de muitas iniciativas meritórias da sociedade e de algumas autarquias.

Os nossos principais protagonistas políticos, ficam-se pelas selfies de ocasião e alguns discursos mais ou menos empolgados. Para desespero dos ucranianos, do ponto de vista militar a Europa não existe e, do ponto de vista político, os principais líderes europeus e também nacionais, apenas se mobilizam em função da sua popularidade. Hoje são os ucranianos que sofrem, amanhã podemos ser nós ou qualquer outro estado europeu. Fica o apelo, temos de agir já!


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