Francisco André Santos
Diacrónicas
Geração a perder
Mesmo sabendo apreciar a vida, tenho a impressão de que agora que somos adultos, eu e os meus amigos temos uma certa desilusão com esta fase. Enquanto entretemos uma nova rodada, não deixamos de perceber que o fim-de-semana termina em poucas horas. A começar na segunda, entretemos uma ocupação.
Parece que estamos bem. Quer dizer, ora temos os recibos verdes, os estágios profissionais, os estágios de curriculares, os estágios do IEFP, os estágios no estrangeiro, o estágio de Erasmus, o voluntariado, o organizar de eventos, e o estágio de verão entre outras coisas que já não cabem nas duas páginas que voltamos a enviar em anexo.
Os melhores de nós começam em empresas de renome internacional. A distância para com as piadas do chefe é curta quando comparada com o tempo necessário para o igualar na hierarquia. Por vezes, fazemos-lhes as apresentações de PowerPoint. Por simpatia, até servimos café. Ah! E ainda partilhamos no Linkedin o texto apaixonado do marketeer fiel à missão da empresa. Por certo que o respeitinho é uma coisa muito bonita e por isso, preferimos tolerar o assédio que o centro de emprego.
Enquanto somos responsabilizados pelas escolhas possíveis, continuamos meio confusos por tudo o que passa à nossa volta. Os adultos, agora mais honestos, aparentam as mesmas crianças que julgávamos existir apenas em nós. Enquanto isso, os deveres legais ganhos aos 18 não se equiparam aos diretos dos que têm acima de 40.
Essa mesma geração que tanto aprendeu com as responsabilidades acrescidas continua nos mesmos postos por longos anos. Tenho a sensação que isto foi permitido com o 25 de Abril e todas as vagas e oportunidades criadas com a mudança de regime. A isto ajusta-se a idade de reforma face ao aumento da esperança média de vida. Tomo isto como hipótese apenas enquanto a idade por um posto.
Aqui por Roterdão, percebo que não sou o primeiro a escolher vir para o estrangeiro. Vou perguntando se voltam ao país, para saber com que companheiros contar. Encontro muitos Gregos. Ficam tão surpreendidos por ter vivido num canto da Grécia como os locais ficavam quando lhes dizia que vinha para trabalhar. O dinheiro Europeu que aí recebi, parecia ser a única condição possível para se trabalhar na Grécia. Chamam-lhes a “geração perdida”. Aqui, posso-lhes perguntar o que fazem, sem recear a resposta: “O que é que eu faço? Bem, Francisco… eu não trabalho… e não estudo”.
A verdade é que tanto somos privilegiados como desprivilegiados pelas gerações anteriores à nossa. No nosso continente, que saibamos continuar a apreciar a paz, mas que reneguemos à insustentabilidade ambiental e financeira criada, e que o façamos quanto antes sem ter que esperar por uma mudança de geração ou regime.
Segunda-feira volto a enviar o anexo. Ainda tenho muito por aprender pelo estrangeiro e procuro diferentes locais de trabalho onde sinta que possa contribuir com os meus estudos de maneira a poder desenvolver alternativas para a nossa sociedade. Os Gregos afirmam que ficarão por cá. A mim, ainda me faz falta o meu país.
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