Joana Crispim

Mestre em Psicologia Clínica e formada em Hipnose

Feridas emocionais da infância que persistem na vida adulta

As experiências da nossa infância podem provocar algumas cicatrizes emocionais que irão influenciar a nossa qualidade de vida enquanto adultos. No respetivo artigo, irei abordar algumas destas feridas emocionais, que se formam na infância e que se constituem como parte integrante da nossa personalidade.

Desde a infância que é possível desenvolvermos ideias distorcidas da realidade, todos nós temos interpretações a respeito do mundo e das situações, mas não são essas situações que causam problemas ou dificuldades na nossa vida, mas sim, o modo como nós interpretamos essas situações. Essas interpretações enraízam-se de tal forma na nossa mente, que acabam por ser incorporadas como verdades absolutas que nos vão gerando sofrimento psicológico ao longo dos anos na idade adulta.

Segundo a teoria cognitivo-comportamental estas feridas emocionais derivam de crenças nucleares, crenças essas que se tornam disfuncionais à medida em que as vamos recalcando na nossa mente.

Antes de vos falar nas feridas emocionais mais comuns, vou primeiro explicar-vos a importância que as nossas crenças desempenham no nosso comportamento do dia-a-dia.

As crenças nucleares são normalmente desconhecidas pelo próprio indivíduo, elas consistem em ideias rígidas e generalizadas para diversas situações do quotidiano da pessoa. Para vos dar um exemplo prático imaginemos uma situação, em que uma criança foi abandonada pela sua mãe quando esta tinha sete anos, esta criança muito possivelmente vai desenvolver uma crença de abandono, o que se vai traduzir e manifestar no seu comportamento no dia-a-dia, pois esta criança vai viver para agradar as pessoas à sua volta com o medo de voltar a ser abandonada. E através deste exemplo, já relatei a primeira ferida emocional transportada da infância para a fase adulta - o medo do abandono.

Outra ferida emocional é o - medo de rejeição, esta é uma das feridas mais profundas, porque na verdade implica a rejeição de nós mesmos. A pessoa que manifesta medo em ser rejeitada não se sente digna de receber afeto ou até mesmo de ser compreendida e, como consequência isola-se no seu vazio interior. A - humilhação, é outra ferida emocional de que vos quero falar, esta surge quando em algum momento sentimos que outros nos desaprovam constantemente ou nos criticam. A Humilhação é uma crença que contribui para uma personalidade dependente. Traição / medo de confiar, esta ferida surge quando a criança se sente traída pelos seus pais, principalmente quando promessas não são cumpridas. Sofrer por traição na infância constrói uma pessoa controladora. Por fim temos a - injustiça, esta crença desenvolve-se maioritariamente num ambiente em que os cuidadores são pessoas frias e autoritárias, isto porque a exigência exagerada de exercer limites gera na criança sentimentos de inutilidade e impotência. Mais tarde na idade adulta, a consequência direta da injustiça na conduta daqueles que a sofreram é a rigidez, sendo que estas pessoas tendem a ambicionar grande poder.

Sucintamente e uma vez que abordei diferentes crenças, será que se consegue identificar com alguma destas cicatrizes emocionais?


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