Núcleo de Combatentes da Batalha

Notícias dos Combatentes

Ex-combatentes? Não! Sempre combatentes.

Fomos arrancados de casa na adolescência, quase todos obrigados, muitos antes dos 20 anos de idade, para uma aventura desconhecida, da qual alguns não voltaram.

Amámos o nosso país, defendendo-o, longe de tudo e de todos, mesmo com o sacrifício da nossa própria vida. Protegendo até os que nos detestam, desdenham, ignoram, mas que, sem nós, hoje poucos ocupariam as posições de decisão que ocupam.

Despedimo-nos de amigos e familiares e de tudo o que conhecíamos. Aprendemos de tudo para, depois, não podermos ser mais nada e nos espalharmos ao vento, pelos cantos mais distantes da Terra, elevando o nome de Portugal.

Fizemos novos amigos e novas famílias. Reunimo-nos agora, os que sobrevivemos, para podermos falar do que só nós vivemos e entendemos. Tornamo-nos irmãos e irmãs, independentemente da cor, raça ou credo.

Tivemos muitos momentos bons e outros tantos maus; vimos morrer o camarada, o amigo da nossa terra, ao nosso lado.

Não dormimos o suficiente. Adquirimos hábitos bons e maus, adições, como medicação psiquiátrica.

Trabalhámos muito, combatemos ainda mais, e divertimo-nos de menos. Não ganhámos grande coisa, pois nada paga a vida.

Experienciámos a felicidade da carta, do telefonema mas também a tristeza de perder eventos importantes.

Não sabíamos quando, ou mesmo se, veríamos a nossa casa novamente, a nossa família e amigos.

Crescemos rápido e, mesmo assim, nunca crescemos.

Lutámos pela nossa liberdade, assim como pela liberdade dos outros (os tais para quem os militares são desnecessários e parasitas da nação, mas que continuam a ter fechadura da porta em casa...)

Alguns de nós vimos o combate real; felizes os que não o viveram.

Lidámos com a guerra física e a maioria de nós também com a psicológica.

Vimos, experimentámos e suportámos coisas que não podemos descrever ou explicar totalmente, pois nem todos os nossos sacrifícios foram físicos.

Participámos em cerimónias e rituais consagrados pelo tempo, fortalecendo nossos laços e camaradagem, no funeral do camarada que morreu, que deu a vida para que pudéssemos nós voltar e vermos os nossos entes queridos. Contávamos uns com os outros para fazer o nosso trabalho e, às vezes, sobreviver. Lidámos com a vitória e a tragédia. Celebrámos e lamentámos.

Homenageamos os que “partiram”, sempre que podemos. Sim, não esquecemos os que perdemos ao longo do caminho.

Quando a aventura acabou, uns voltaram para casa, alguns recomeçaram noutro lugar e outros nunca mais regressaram.

Contamos histórias incríveis, hilariantes, tristes, das nossas façanhas e aventuras. Compartilhamos um vínculo tácito com os camaradas, que a maioria das pessoas não experimenta e poucos entenderão.

Elogiamos o nosso próprio “ramo” e rimos dos outros dois - No entanto, sabemos que, se necessário, estaremos ao lado dos nossos camaradas todos juntos como um só, num piscar de olhos.

Ser um combatente é algo que não se conquista, é algo imposto e que não se perde nunca.

Não tem valor monetário mas, ao mesmo tempo, é uma dádiva inestimável e incompreensível, inenarrável.

Só os patriotas reconhecem os combatentes e agradecem pelo seu serviço – coragem e abnegação.

Quando nos cruzamos, damos aquele pequeno aceno de cabeça para cima, ou um leve sorriso, sabendo que compartilhamos e experimentamos coisas que a maioria das pessoas não tem.

Então, de nós para os restantes combatentes lá fora, elogiamo-los e agradecemos por tudo que fizeram e sacrificaram pelo país.

Tentem lembrar-se dos bons tempos e façam as pazes com os maus. Compartilhem as Vossas “estórias”; conservemos as memórias, não morramos só porque o nosso corpo desaparece.

Mas, o mais importante, fiquem firmes e orgulhosos, pois conquistaram o direito a serem chamados de militares combatentes, uma condição que se ganha para sempre e que só morre connosco – quando se deixa de ser solteiro é para sempre, quando se é militar combatente é para sempre!

Abraçamos todos os camaradas: os que nos comandaram, os que comandámos e os que partiram.


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