“Etnografia – Alta Estremadura 1” de Adélio Amaro

Portugal não é um país divisível em razão daqueles factores de ordem histórica, étnica, linguística ou geográfica, que possam justificar a criação, que no nosso caso seria uma mera imposição política, de regiões administrativas autónomas.

A História é comum a todos os 89 mil quilómetros quadrados do território continental desde 1249, há quase oitocentos anos, a Etnia é a mesma de norte a sul, fala-se a mesma língua com a pequeníssima excepção do mirandês que é, no fundo, um dialecto português, e o território é o mesmo e contínuo, com a mesma fronteira mantida há séculos, a mais antiga fronteira europeia, com a Espanha, apenas alterada num pequeno ponto, Olivença, quando o país vizinho ocupou a velha cidade portuguesa. E a Religião também durante séculos foi a mesma.

Mas há diferenças de ordem etnográfica que se traduzem em músicas, cantares, danças, alguns instrumentos, trajos que se usaram ainda nos primeiros decénios do século XX, e nalguns costumes que de forma alguma caracterizam etnias diferentes mas apenas a diversidade criativa dum mesmo povo que isolamentos medievais propiciaram.

As manifestações etnográficas da nossa província natal, a Estremadura, e nomeadamente da região do seu norte, a Alta Estremadura, facultam-nos numerosos exemplos dessas distinções que, presentemente, os seus grupos folclóricos tentam preservar e revelar e a que vários etnógrafos de comprovados méritos como o Dr. José Alberto Sardinha e os saudosos Professor José Ribeiro de Sousa e António Aires Costa Bernardes (António Oleiro), dedicaram estudos alicerçados em aturadas recolhas.

A enriquecer a bibliografia etnográfica (e histórica) alto-estremenha, foi editada há pouco pelo Dr. Adélio Amaro uma obra sobre as singularidades da região que vai sensivelmente do paralelo 40, um pouco a norte de Pombal, até aos concelhos do Bombarral e de Peniche, e de Ourém até ao Mar, servindo-se o autor das informações fidedignas que foram deixadas por estudiosos como Alberto Pimentel (1849-1925), poeta, jornalista, historiador, etnógrafo, que publicou dois livros preciosos sobre a Estremadura, sendo curioso referir que se tratava dum natural do Porto, o primeiro dedicado ao Ribatejo, que então era terra estremenha, o que é preciso anotar, e o segundo à Estremadura propriamente dita, aquela Estremadura que foi despedaçada em 1936 por um decreto do Terreiro do Paço, além das de outros investigadores, entre eles o notável historiador e etnógrafo Professor Doutor José Leite de Vasconcelos.

Nas páginas dum jornal é-me impossível transcrever tudo aquilo que poderá cativar o leitor e levá-lo a conhecer o livro agora publicado, mas não deixo de apontar duas ou três das informações históricas que se referem particularmente à Batalha: “O ofício de canteiro é em Portugal aptidão expontânea e notabilíssima, como ainda se reconhece nos operários que modernamente (isto em 1908), têm procedido às restaurações da Batalha, tais como bem ou mal lhas impuseram, e que nas horas vagas fazem graciosos “bibelots” de pedra para vender aos visitantes”.

“Celebram-se anualmente na igreja do mosteiro as cerimónias da Semana Santa e as festas do Sacramento, da Senhora do Rosário, do Coração de Jesus e da Santíssima Trindade, figurando nesta última três pagens (suponho que Pimentel se referia ao Imperador e aos seus dois acompanhantes), e havendo fogo preso e arraial com descantes populares”.

E ainda outra, no aro administrativo da Batalha mas sobre o Reguengo do Fetal: “No Outono celebra-se aqui a festa de Nossa Senhora, vulgarmente chamada do Fetal, e à noite iluminam-se todas as portas e janelas da aldeia por um processo interessante. São cascas de caracóis cheias de azeite e munidas de pavios minúsculos, mas o efeito é pinturesco pela multidão de estrelinhas que poisam sobre as casas brilhando…”.

Sobre a nossa vizinha Porto de Mós, entre outras notícias daquele princípio do século XX, recolho esta: “O concelho apresenta dois aspectos distintos: ameno nos arredores da vila, posto que vagamente melancólico e áspero nas freguesias da serra, cujos habitantes são bisonhos mas notáveis pela sua honradez. Os trajos das mulheres ressentem-se do aspecto montanhoso da região em que vivem. Não são pinturescos nem garridos. Em Leiria principia a aparecer nas saias uma barra encarnada e daí para cima, avançando sobre o norte, o vestido feminino começa a tingir-se de cores vivas, que são reflexo de uma paisagem mais luminosa e ridente”.

É um sem acabar de informações, com os respectivos e lúcidos comentários do Dr. Adélio Amaro, que este livro nos proporciona.

O Dr. Adélio Amaro é um jovem intelectual nascido em Leiria mas com as raízes paternas fincadas na paradisíaca Ilha de São Miguel, nos Açores, que tem vindo a publicar diversos estudos sobre a nossa região e também sobre os Açores. Director executivo de diversos jornais, a maior parte editada no estrangeiro e dedicada às comunidades portuguesas por lá fixadas, foi responsável pela notável editora leiriense “Folheto” que deu expressão a inúmeros autores da Alta Estremadura. Publicou também poesia sua e dedicou-se, igualmente, às artes plásticas. Presentemente é o presidente do Centro do Património da Estremadura (CEPAE) e da Associação Folclórica da Região de Leiria/Alta Estremadura, onde vem desenvolvendo uma actividade notável pela quantidade e pela qualidade das iniciativas. Impulsionada por si tem sido editada uma série de volumes com poesia de autores da lusofonia espalhados pelo Brasil e Estados Unidos, pela Europa e pela África. Muito mais haveria a dizer sobre a sua acção e muito mais há a esperar do seu dinamismo, da sua cultura e da sua inteligência. É um homem ao serviço generoso de inúmeras causas nobres, aliás o que tem sido reconhecido por diversas entidades regionais, nacionais e estrangeiras.

Esta edição de “Etnografia – Alta Estremadura 1”, como aquele algarismo indica, será a primeira duma série dedicada ao tema.

A capa do livro, esplêndida, reproduz um notável quadro da grande pintora batalhense Irene Gomes.

Todo o livro é ilustrado com gravuras e fotografias daqueles primeiros anos do século XX e também de épocas antecedentes.

José Travaços Santos

Apontamentos sobre a História da Batalha (193)

 

Divisão a divisão, a Casa da Cultura do Rosas do Lena

No primeiro andar do imóvel, que como já se disse é uma feliz adaptação do velho palheiro que ali existia, com entrada pela sala destinada às reuniões e também à escola de concertinas e harmónios, tem-se acesso ao gabinete da direcção do agrupamento e a uma pequena divisão onde se guardam os trajos de reserva, tudo bem acondicionado e preservado e sempre pronto a ser usado pelos elementos que vão entrando no Roas do Lena.

Nas paredes de todo o primeiro andar há inúmeros diplomas das actuações no nosso País e no estrangeiro e expostas as lembranças com que foi obsequiado ao longo de 56 anos de existência e de actividade permanente.

Vem a propósito da sua actividade lembrar que em 19 de Maio o agrupamento promove a “Tarde na Ponte da Boitaca” que decorrerá das 15h00 às 18h00, que em 14 de Julho, na praça de D. João I e no largo do Condestável, realiza mais um “Festibatalha”, com venda de artesanato, música popular, Festival Nacional de Folclore, Marchas e bailarico, tudo entre as 15h00 e as 24h00, e que em 10 de Agosto, no largo do Condestável, realiza-se mais uma Gala Internacional de Folclore da Batalha a partir das 21h30. Toda esta sua actividade tem o apoio e patrocínio da Câmara Municipal da Batalha. J.T.S.


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