A Opinião de André Loureiro

Presidente do PSD da Batalha

Estranhas prioridades da nossa terra

1. Em benefício da transparência e sobretudo da eficiência dos recursos públicos, sempre que estão em causa opções que comportam elevados compromissos financeiros para o futuro da autarquia e com consequências para a população, devem ser analisadas à lupa e explicadas com clareza às pessoas. E por mais que isso custe a compreender a alguns dos novos (velhos) dirigentes autárquicos, trata-se de uma exigência democrática e um contributo para a melhoria da qualidade das decisões públicas.

A história recente da criação de uma nova empresa municipal para gerir o serviço de águas do concelho da Batalha já é uma novela e revela uma agenda particular de quem vislumbra nesta opção apenas uma forma mais fácil de empregar novos recursos, e a coberto da promessa de melhoria de um serviço que, refira-se, na Batalha sempre foi considerado de qualidade e a preços mais baixos face aos concelhos vizinhos, a decisão foi imposta sem admitir outra solução, como a possibilidade de exploração e gestão direta pelos serviços municipais.

Estranha opção da atual maioria municipal que sem hesitações - e apenas na base de um estudo de caráter duvidoso e pago a peso de ouro -, decide acabar com uma relação sólida com a empresa Águas do Lena, concessionária do sistema de abastecimento de água do Concelho da Batalha desde 1997 (há 25 anos), e várias vezes distinguida com o "Selo da Qualidade Exemplar da Água”, galardão atribuído pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas – ERSAR.

Uma coisa é certa, conhecida a primeira proposta de aumento do tarifário, serão os batalhenses e as empresas a suportar esta decisão, com tarifas mais caras na água, logo no primeiro ano acima dos 11% e com forte reflexo na fatura mensal.

2. Outra marca estranha na gestão pública local tem sido os constantes ziguezagues nos vários projetos que se encontravam em curso: ora são suspensos, ora são anunciados como novas oportunidades para candidaturas a mais financiamentos europeus. Desde logo, a futura residência de estudantes do ensino superior a instalar na Casa da Obra, a finalização da creche municipal ou mesmo a conclusão das ciclovias e do pavilhão desportivo em São Mamede.

Neste particular, para além da jigajoga política que já não convence ninguém “de que tudo estava mal feito”, seria importante recuperar para a ação local uma atitude de compromisso com o desenvolvimento dos bons projetos, independente de quem os concretizou.

Todos sabemos, inclusive este vosso bom amigo, que os eleitos são avaliados pelas populações pelo que realizaram, mas também por aquilo que não fizeram, por conseguinte, não creio que esta abordagem de apenas anunciar o caos tenha qualquer utilidade para o futuro do Concelho ou sequer para o benefício dos cidadãos, razão principal da atividade pública.

3. Estranha-se ainda a prioridade atribuída ao anúncio de novos grandes projetos para o município, sem procurar resolver as questões mais próximas da população.

A requalificação do Centro de Saúde da Batalha é um bom exemplo, uma vez que foi decidido abandonar uma intervenção imediata nas condições de funcionamento daquele serviço, com melhorias para os profissionais e utentes, desde logo ao nível das acessibilidades para pessoas com mobilidade reduzida, com financiamento europeu garantido de cerca de seiscentos mil euros, para anunciar o futuro Centro de Saúde, um projeto de 4 milhões de euros para rivalizar com os vizinhos, a que se vai juntar no mesmo local e como grande novidade, um mega pavilhão multiusos com capacidade de albergar vários eventos – e talvez o futuro espaço para o campo de andebol de praia, uma modalidade em visível propagação na nossa terra. Estranhas prioridades, não acham?


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