Francisco André Gomes
Diacrónicas
A “Escola do Futuro”
Enquanto a professora ligava o computador, o aluno correspondente ao número da lição perguntava: “Professora, posso ir escrever o sumário?” De costas para o Zézinho, a professora começava a digitar as credenciais de login no computador. O Zézinho, através do quadro digital, alterava a posição do cursor e incutia uma multiplicidade de palavras-passe erradas. Normalmente, à segunda tentativa, a professora exclamava: “Bolas! É sempre com este computador!” A turma inteira tentava risos mudos enquanto tentávamos a professora. Vinha então o Joãozinho da outra turma. No entendimento da professora, o Joãozinho era uma espécie de Einstein dos computadores. Cursando o login, e nunca antes tinha o jingle de inicio do Windows tido tantas semelhanças à ode da alegria!
Esta era uma das lições que dávamos aos professores na “Escola do Futuro”. Foi em 2005 que o Colégio Conciliar de Maria Imaculada levou uma equipa do 9º ano, a equipa Alfa, a ganhar a essa competição que homonimamente premiava a “Escola do Futuro”. Com direito a transmissão televisa, a “Escola do Futuro” foi organizada e paga, senão na sua maioria, então na totalidade, pela Portugal Telecom (PT), hoje conhecida como Altice. Se bem que a equipa não teve o mesmo usufruto, deixou os alunos do Colégio com um legado tecnológico de excelência, e como demonstrado, alguns professores um pouco atarantados.
10 anos depois da competição, vim a descobrir através de um artigo sobre essas mesmas “partidas digitais” que numa escola sueca, esse meu passado veio a ser o presente. Convenhamos que “o futuro”, no presente, é simplesmente uma exceção à regra. Julga-se que esse futuro será normalizado. Senti-me bem realizado, quando me apercebi que passado esses 10 anos, “o futuro” também chegou às salas de aula da Suécia!
Na Estónia, também vivem no futuro. Isto é, afirmam que as suas práticas passarão a ser correntes. Com a maioria dos serviços públicos online, admito que fazem bem em apostar nesse tempo gramatical. E se bem que em Portugal não temos que enfrentar montanhas de neve para ir votar, teria muita pinta fazê-lo pela Internet, na praia. Infelizmente, as infraestruturas digitais assim como a administração pública carece esse investimento. Em alternativa, vendemos o histórico.
Vendemos ainda a inovação. Originalmente pública, a PT foi gradualmente privatizada de acordo com as práticas correntes de então. Numa tentativa de “encaixamento” político, um amigo perguntou-me recentemente se achava melhor que o estado tivesse a função de gerir empresas. A verdade é que desde que sejam bem geridas, pouco importa. Pouco importa a PT ser pública ou privada, desde que as suas funções de desenvolvimento da economia e de fomento da inovação, sejam cumpridas. No entanto, para um país, é importante que exista. Na sua maioria, as inovações falham, mas quando não existe sequer a possibilidade de tentar, não existe a possibilidade de que tenham sucesso.
A “Escola do Futuro” é um exemplo de desenvolvimento real. A presença de uma empresa de tecnologia como a PT teve um efeito direto na minha educação e dos meus colegas. Inclusive, numa série de serviços tecnológicos que hoje subsistem no país. Infelizmente, esse gigante da inovação nacional é hoje um anão subsidiário. A escola do futuro faz parte do passado.
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